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domingo, 23 de outubro de 2011

A Importância da Afetividade no Processo de Cognição

A Importância da Afetividade no Processo de Cognição

- Afetividade e Cognição: Caminhos que se Cruzam

Natália de Cássia Oliveira da Silva Jusani,

Pós-graduanda em Psicopedagoga do Centro Universitário da Grande Dourados-UNIGRAN

Junho/2009







RESUMO



Este artigo tem como objetivo destacar a importância da afetividade nas relações sociais, principalmente no contexto escolar, enfatizando a importância da relação afetiva professor- aluno e a sua relevância para o processo de ensino – aprendizagem. Busca-se ainda neste trabalho fazer reflexões relativas à importância do vínculo familiar neste processo bem como mostrar de que maneira as relações afetivas contribuem no processo cognitivo.



Palavras-Chave: Afetividade. Cognição.



ABSTRACT



This article aims to highlight the importance of affection in social relations, especially in the school context, emphasizing the importance of affective teacher-student relationship and its relevance to the teaching process - learning. Search is still thinking in this paper on the importance of family ties in this process and to show how affective relations help in learning process.



Keywords: Affectivity. Cognition.



1. INTRODUÇÃO



Em nossa sociedade, principalmente no âmbito do contexto escolar, muito se tem discutido acerca dos problemas relacionados às dificuldades que os alunos encontram durante o processo de construção do conhecimento assim como sobre a dificuldade que alguns professores têm encontrado diante de tal situação.
O que ocorre no âmbito escolar hoje é que, o que se tem ensinado em sala de aula acaba caindo num grande vazio devido ao distanciamento que existe entre o professor e o aluno. Na verdade, pouco se tem pensado – dentro das escolas, sobre o valor que a afetividade tem na construção do conhecimento; pouco se tem falado acerca da importância de existir uma relação harmônica, confiável entre professores e alunos e destes com toda a comunidade escolar.
É necessário que se reflita sobre os tipos de relação que existem no contexto escolar e mais, sobre o papel da família, sua influência e importância durante o processo de aquisição, construção do conhecimento; já que o ser humano é um ser social, e como tal, precisa ter um bom relacionamento, entendimento com aqueles que de fato são responsáveis por gerir este processo.
Uma interação mútua entre professor e aluno e deste com a família, pode evitar problemas como distúrbios na aprendizagem já que a afetividade, assim como aspectos emocionais, está presente no processo de construção do conhecimento.
O ser humano como fruto da sua interação com o mundo, forma sua personalidade, desenvolve habilidades, adquire e reformula conhecimentos a partir da sua relação com o outro.
É através do convívio com o outro, que o individuo desenvolve sentimentos, afetividades que facilitam sua interação e dão acesso a novos conhecimentos. Sendo assim, é preciso que haja um vínculo afetivo entre todos aqueles que estão envolvidos no processo de aprendizagem - família, aluno e professor, para que o aprendizado se dê de forma satisfatória e seja prazeroso.



2. ALUNO - AFETIVIDADE - PROFESSOR: UMA TRÍADE QUE DÁ CERTO



“A verdadeira viagem da descoberta

não consiste em procurar novas paisagens,

mas em possuir novos olhos.”

Marcel Prost

Depois da figura da família, o professor é a figura que ocupa grande importância na vida do aluno, pois ele não é apenas mediador entre o aluno e o conhecimento, ele divide angústias, dúvidas, É ele quem com calma e firmeza ensina o aluno a dar seus primeiros passos, direcionando-o a teia que é o mundo do conhecimento.
Segundo Balestra (2007) o professor é o elo fundamental, indispensável para estabelecer a interação aprendente - objeto de conhecimento, e para que esta interação se dê, os laços de confiança e afetividade entre aquele que ensina e aquele que aprende devem estar bem consolidados pois “a afetividade deve ser vista como a força motriz que impele o sujeito para o conhecimento.” (PIAGET apud BALESTRA, 2007:42).
Enxergar o aluno como um ser que já vem para a escola com uma bagagem de conhecimento, com um conhecimento de mundo construído é fundamental para que se firmem laços com o ser aprendente. Durante o processo de aquisição do conhecimento, respeitar o que o aluno traz de conhecimento externo ao ambiente escolar, assim como seu tempo de aprender é muito importante para que a aprendizagem ocorra naturalmente, pois:



Saber algo a respeito de certo objeto não quer dizer, necessariamente, saber algo socialmente aceito como “conhecimento”. Saber quer dizer ter construído alguma concepção que explica certo conjunto de fenômenos ou de objetos da realidade.

(FERREIRO, 1981:17)

Tal respeito contribui para o processo de ensino – aprendizagem já que “a afetividade e a inteligência são, portanto, indissociáveis e constituem os dois aspectos complementares de toda conduta humana.” (PIAGET, 2001:22). Assim, a aproximação, o despertar para os vínculos afetivos é um fator primordial e de extrema importância durante o processo de cognição.
Segundo ainda Piaget (2001) em todas as fases da vida humana os vínculos afetivos são fatores determinantes, o que pode resultar numa melhor integração deste com o meio social ou, quando os vínculos não acontecem, num distanciamento daquele com este meio gerando problemas como os distúrbios de aprendizagem.
Desta forma, então, é correto afirmar que a aprendizagem está ligada à afetividade, ambas caminham juntas, sendo importante assim, que sejam criados no ambiente escolar, mecanismos para que afetividade e aprendizagem ocorram e se completem, no intuito de se obter um resultado prazeroso – que é a construção do conhecimento, tanto para o educando, quanto para o educador.
É preciso que o educador crie vínculos com seus alunos para que possa criar situações de aprendizagem, pois “o objeto a ser conhecido deve contemplar os interesses que caracterizam a fase de desenvolvimento mental em que se encontra a criança.” (BALESTRA, 2007: 36) e mais, o equilíbrio cognitivo necessita da afetividade (do interesse, da vontade, da motivação que deve ser despertada pelo professor) para que haja a construção de novas estruturas intelectuais.
Em outras palavras, o professor tem que muitas vezes se despir de velhos paradigmas e métodos para que seja possível aproximar o aluno do objeto a ser conhecido, pois segundo Balestra (2007) tal objeto deve ser desafiador, tem que ser significante, provocar a ação do ser cognoscente. Ou seja, muitas vezes, para criar situações de aprendizagem além do aspecto afetivo é preciso mudar a metodologia, buscar outras fontes, mudar o tom de voz, já que o ser aprendente é como o vaso na mão do oleiro, deve ser moldado cuidadosamente, com carinho, para que suas estruturas no campo da construção do conhecimento não se quebrem, para que assim o aprendizado se dê como um ato motivador.
Em suma, mais do que professores bem titulados e equipamentos modernos, as relações estabelecidas na escola necessitam de mais afetividade, pois:
O grau de afetividade que envolve a relação do (a) professor (a) com os seus pares representa o fio condutor e o suporte para a aquisição do conhecimento pelo sujeito. O aluno, especialmente o da educação infantil, precisa sentir-se integralmente aceito para que alcance plenamente o desenvolvimento de seus aspectos cognitivo, afetivo e social.

(BALESTRA, 2007:50)





3. O PAPEL DA FAMÍLIA NA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO



Como é sabido a família é o alicerce que rege a vida de todo ser. É ela que primeiramente apresenta o mundo do conhecimento à criança, já que este não é adquirido somente no âmbito escolar.
O primeiro conhecimento que qualquer indivíduo possui antes de ingressar na escola é o conhecimento prévio, ou conhecimento de mundo – como assim também é chamado, e este, ao contrário do ambiente escolar, não precisa de regras pré-estabelecidas, ele ocorre naturalmente, através do contato social do indivíduo com a família e destes com o mundo que os cerca.
É na família que a criança faz seus primeiros vínculos afetivos e é por meio dela que o individuo é apresentado ao mundo cultural. Ela é a grande responsável pela educação das crianças e também da sua aprendizagem e é por meio desta aprendizagem que o individuo começa a construir saberes.
Porém, embora a família seja tão importante, parte fundamental na formação de um indivíduo, o que se vê hoje é que os pais se eximem de seu papel e principalmente, da vida escolar, do processo de construção do conhecimento de seus filhos, que começa em casa.
A relação afetiva que uma criança tem em casa irá contribuir negativa ou positivamente no seu desempenho escolar. Os anseios e as expectativas que a família tem sobre a criança são muito relevantes tanto em sua formação acadêmica quanto pessoal, pois a criança espera ser admirada, elogiada, motivada, amada, e quando isto não acontece, ela se sente desestimulada, não produz, não vê satisfação, prazer no ato da aprendizagem.
Vale aqui acrescentar, que o acompanhamento da vida escolar do aluno pelos pais é muito importante. Segundo relata os estudos piagetianos, a afetividade é uma valiosa contribuição para a educação da criança na família e, especialmente na escola, no entanto, “o acompanhamento de seu desempenho escolar, ou seja, do processo cognitivo, é importante, mas o aspecto afetivo não pode ser negligenciado em nenhum momento do desenvolvimento infantil, principalmente na vida escolar.” (BALESTRA, 2001: 49).
Todo e qualquer acontecimento dentro do âmbito familiar é refletido na escola, se os pais não vão bem e não apresentam um vínculo afetivo com seus filhos, no âmbito escolar, a criança tende a apresentar problemas de aprendizagem e sua vida acadêmica pode se tornar um fracasso.
Desta forma cabe as famílias propiciar um ambiente saudável, que ofereça e estimule o desenvolvimento afetivo e cognitivo da criança. O ambiente familiar é o local onde, de fato, a criança desenvolve suas capacidades emocionais e intelectuais. E os aspectos emocionais conforme Weiss (2008) estariam ligados ao desenvolvimento afetivo que tem extrema importância na construção do conhecimento e na expressão deste através da produção escolar.
Ao contrário do ambiente escolar, onde o aprendizado se dá de maneira mais objetiva, no contexto familiar a aprendizagem ocorre, sem dúvidas, de forma bem mais subjetiva, livre, significativa e espontânea, daí a importância de que haja uma relação de diálogo e afetividade ente o ser aprendente e sua família.
Em resumo, a afetividade familiar é muito importante, como é importante também que escola e família caminhem juntas numa constante interação, pois assim o aluno poderá ter um desenvolvimento cognitivo maior e um ajustamento cultural e emocional mais adequado. Família e escola devem ser parceiras e aliadas para que lado a lado possam encontrar meios para resolver problemas como as dificuldades de aprendizagem.



CONSIDERAÇÕES FINAIS



A afetividade mais do que mola propulsora do aprendizado é o fator primordial, que define, que delimita os campos que o aluno irá trilhar durante o processo de cognição. E sendo assim, família e professores devem cultivar este sentimento para que a aprendizagem não se torne um fracasso.
Mais do que metodologias modernas de ensino, equipamentos sofisticados e uma boa titulação, o professor deve ter a consciência de que ele é o responsável pelo processo de aprendizagem dentro da instituição escolar, e como tal, a motivação, o interesse, o prazer em construir e desconstruir conhecimento é responsabilidade sua. É ele quem deve despertar no aluno o gosto pelo aprendizado, e mais do que isso, é ele quem deve pegar o aluno pela mão e acompanhá-lo durante suas primeiras passadas no mundo do conhecimento.
Vale acrescentar porém, que para que o processo cognitivo se dê por completo no âmbito escolar, ou seja, para que a relação professor-aluno possa resultar em ponte para o conhecimento, as relações familiares do aluno também devem ser nutridas, já que a família é a instituição mais importante da vida de qualquer individuo.
O professor, sem dúvidas, é muito importante no processo cognitivo, mas a família também, já que é no seio familiar que ocorrem as primeiras aprendizagens. Mais do que participar do processo de aprendizagem de seus filhos, os pais ou responsáveis pelo ser aprendente devem ter uma relação afetiva consistente com este, já que o processo de cognição envolve tanto aspectos sociais, orgânicos, pedagógicos, quanto emocionais e cognitivos. E isso significa que se o individuo não estiver bem em suas relações sociais, familiares, fora do contexto escolar; dentro da escola, seu aprendizado poderá estar comprometido.
Então, família e escola devem caminhar juntas, criando oportunidades, nutrindo o prazer pelo aprendizado, despertando no ser aprendente quão prazeroso pode ser trilhar o mundo do conhecimento, quando se está disposto para isso. Mais do que parceiro, o professor é a família do aluno dentro de sala de aula, é seu espelho, assim como os pais são os professores de seus filhos fora do ambiente escolar. Portanto, o ato cognitivo deve ser acompanhado afetivamente por todos aqueles que são parte deste processo e que podem contribuir para torná-lo mais prazeroso: pais e professores.



Bibliografia



BALESTRA, Maria Marta Mazaro. A Psicopedagogia em Piaget: uma ponte para a educação da liberdade. Curitiba: Ibpex, 2007.



FERREIRO, Emília. Reflexões sobre alfabetização. 24ª edição atualizada. São Paulo: Cortez Editora, 1981.



PIAGET, J. Seis estudos de psicologia. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2001.



WEISS, Maria Lúcia Lemme. Psicopedagogia Clínica – uma visão diagnóstica dos problemas de aprendizagem escolar. 13 ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: Lamparina, 2008.





disponivel em http://www.abpp.com.br/monografias/12.htm acessado dia 23/10/2011

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