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domingo, 23 de outubro de 2011

ENTENDENDO O QUE É SER CRIANÇA

A concepção de criança é construída cultural sócio e historicamente.


Charlot (1986) ao estudar a infância tendo como base uma perspectiva social nos mostra que “a imagem de criança assume, nos sistemas filosóficos e pedagógicos, as dissimulações do aspecto social dessas contradições.” Para o autor a representação da criança é socialmente determinada, uma vez que exprime as aspirações da sociedade e dos adultos que nela vivem.

Nesse contexto, infelizmente a infância deixa de ser vista pela perspectiva natural (do ponto de vista biológico).

De qualquer maneira, o interessante seria olharmos para a criança como um todo: com habilidades, limitações, potencialidades.

Com tantas definições e concepções para o ser criança, cabe ao educador ou ‘ cuidador’ legitimá-la enquanto um ser em crescimento , capaz de agir, interagir, descobrir e transformar o mundo.

Nesse contexto, as atividades das crianças, suas relações com o mundo e as mediações desse educador são as premissas para o desenvolvimento das capacidades humanas.

Para Vygotsky (1998), as transformações no mundo psíquico da criança ocorrem sempre numa relação de reciprocidade. O todo que compreende o psiquismo da criança se modifica num movimento dialético. Deste modo, a criança não só é transformada pelas relações com seu entorno, mas ao interagir com ele, também o transforma.

Durante esse meu fazer e ser educadora frente aos desafios diários que são inerentes a ser humano eu fui modificando minha concepção sobre criança.

Sempre vivenciei e aprendi no meu processo de crescimento que a criança é boa, carinhosa, delicada, passiva e deve ser obediente.

Com essa trajetória um tanto empobrecida sobre o ser criança, fui me constituindo adulta e na vida passei adotar essa essência fragmentada sobre esse ser também na docência.

Tive muitos momentos onde acreditava que meu papel era ensinar somente, transmitindo informações. Via na criança, apenas um receptáculo vazio e pronto a ser preenchido por informações.

Do mesmo modo, pouco as ouvia e suas experiências de vida raramente eram comentadas na sala, pois não tínhamos tempo a perder.

Meu lema era ensinar, ensinar, ensinar. Cabia as crianças aprender. O modo pelo qual aprendiam (na verdade hoje sei que aprendizado não havia, apenas reproduziam informações e cumpriam tarefas) era irrelevante.

Traçando um paralelo da minha prática docente, com minha maternidade e refazendo tal percurso, percebo que hoje, acredito essencialmente no potencial da criança enquanto indivíduo capaz.

A visão de criança que o educador possui fará a diferença na sua vida e formação.

Na década de 90, comecei a ouvir que a criança era capaz; produzia saberes; poderia trocar experiências e assim dar um novo tom para o processo educativo.

Esse caminhar também refletia diretamente em casa, na educação informal.

Aprendi que a criança precisava ser ouvida para participar mais e melhor da sua construção de conhecimentos.

Nós educadores, passamos a ter o papel de mediadores nesse processo; passamos a propor atividades em grupo onde juntos, produziam mais e melhor.

Crianças trabalhando em grupo não deixava de ser preocupante: um quase sinônimo de bagunça.Como trabalhar assim?

Novamente perdi a minha identidade enquanto educadora. Muitas vezes na sala de aula, eu me sentia a deriva. A impressão é que as crianças iriam detonar tudo e todos e a indisciplina parecia ser algo resultante desse novo processo.

Deixei medos e ansiedade de lado e resolvi apostar nesse novo olhar para a criança capaz. Nesse contexto, percebi que dar vez e voz as crianças eram atividades bastante interessantes e bem menos estressantes do que eu imaginava anteriormente.

Eduquei o meu olhar e o meu ouvido.

Comecei a enxergar a criança como um ser produtor de cultura: fazeres e saberes.

Assim, ouvi mais. Registrei comentários, falas, dúvidas. Também me auto avaliava sempre por meio desses registros.

Aos poucos, fui me humanizando. Legitimei as crianças e fui legitimada por elas.

Estabelecemos combinados comuns que iriam reger o grupo durante um determinado período e o mais interessante é que as próprias crianças cobravam as posturas dos seus colegas.

A indisciplina não emergiu como eu temia. Como diz François Dubet (1997), “[...] a disciplina é conquistada todos os dias; é preciso sempre lembrar as regras do jogo, cada vez é preciso reinteressá-los; cada vez é preciso ameaçar; cada vez é preciso recompensar”.

No seu lugar novas posturas foram sendo desenvolvidas. Sabemos que nem tudo é magnífico. Tenho crianças difíceis de lidar, mas não as encaro como um problema, e sim como um desafio.

Hoje, busco estabelecer parcerias com as famílias, pois elas precisam reafirmar e exercer a responsabilidade sobre seus filhos. Precisamos ter as

mesmas ações no processo educativo nos apropriando de valores para a vida.

É preciso deixar claro que as relações estabelecidas em casa ou na escola devem ser qualificadas: não é o tempo que as tornará marcante, mas a qualidade de como esse processo é feito.

Autora: Mônica Abud P C Luz
 
 
Vygotsky, psicólogo russo ressalta o papel da escola no desenvolvimento mental das crianças. Sua teoria é uma das mais estudadas pela pedagogia contemporânea.


Bernard Charlot, educador francês defende uma escola que valorize o aluno, suas origens e sua auto-estima para melhorar a relação do jovem com o saber.

François Dubet (1997), destacado sociólogo francês, ressalta que “a disciplina é conquistada todos os dias”, dentro de um contexto com regras e combinados, como num jogo.
 
 
retirado do site http://www.abpp.com.br/artigos.htm

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