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domingo, 23 de outubro de 2011

A importância do brincar para o desenvolvimento e aprendizagem da criança de 0 a 6 anos: uma experiência na comunidade JK.

A importância do brincar para o desenvolvimento e aprendizagem da criança de 0 a 6 anos: uma experiência na comunidade JK.


Elaine Carli

fevereiro/2007





INTRODUÇÃO



O brincar faz parte da vida do ser humano, em especial da vida da criança, e apesar dessa atividade ter sido vista como algo sem importância, hoje, é um assunto que tem conquistado espaço nas mais diversas áreas de conhecimento.

É preciso refletir sobre a necessidade de se inserir uma metodologia ativa baseada em brinquedos e brincadeiras, considerando a idade da criança e o processo de construção do conhecimento, respeitando-se assim sua predisposição natural, pois criatividade e autonomia se desenvolvem quando se propicia à criança um ambiente familiar e escolar que favorecem essas características.

A consciência de que a fase decisiva para a criança conquistar uma aprendizagem efetiva é a que antecede o ensino fundamental, tem levado um número crescente de estudiosos a propor que a criança seja atendida mais cedo, como única solução para poder compensar as desvantagens que atingem as crianças mais pobres, dando-lhes melhores chances de sucesso quando mais tarde, entrarem na escola.

Diante disso, o atendimento da criança de zero a seis anos intensificou-se com a LDB – 1996, onde o Ministério da Educação e do Desporto propôs um documento intitulado Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, que tem como objetivo servir de referência para a elaboração dos currículos e a definição dos conteúdos básicos para Creches e Pré-escolas, além de oferecer subsídios para o trabalho do professor.

Desta maneira, o voluntariado de pessoas preocupadas com o bem comum, tem levado alegria a muitas crianças e famílias acompanhadas que através de atividades tem ampliado a compreensão dos pais sobre o desenvolvimento e a educação dos seus filhos.

A proposta da Pastoral da Criança que desde a fundação em 1983, vem aprimorando o acompanhamento às crianças menores de seis anos, tem a intenção de atuar com uma abordagem integral do desenvolvimento da criança com relação a ações básicas de saúde e nutrição desde o ventre materno até os seis anos de idade, apresentando sugestões de como abordar o assunto com os pais, envolvendo as famílias, e comunidades mais carentes.

No campo educacional elaborou-se então um programa específico que se denominou Educação Essencial, onde o objetivo é oferecer à criança as condições essenciais ao seu desenvolvimento, no âmbito familiar, sem a preocupação de organizar serviços formais como creches ou pré-escolas.

Nesse programa, as voluntárias aproveitam para debater com os participantes temas como a importância do brincar, a necessidade de oferecer brinquedos e brincadeiras que serão antes de tudo, estimuladores do seu desenvolvimento e tem como objetivo sensibilizar as famílias para a importância da atividade lúdica para a criação de laços afetivos entre as gerações.

À medida que as experiências passam a enriquecer as comunidades e famílias, vão oferecendo novas oportunidades de desenvolvimento para as crianças de baixa renda.

Já não dá mais para esconder o estrondoso fracasso escolar que as estatísticas revelam com as crianças de diferentes meios sócio-culturais. As crianças pobres são, na maioria, excluídas da escola sem ter aprendido nada de útil para sua vida e seu trabalho, considerando-se como inferiores aos outros, ou seja, aos que tem sucesso.

Os problemas, as dificuldades de aprendizagem como a leitura, escrita, cálculos matemáticos, somam-se aos problemas de atividade motora (hiperatividade, hipoatividade, dificuldades de coordenação); atenção (baixo nível de concentração); questões psicológicas (desajustes emocionais leves); memória (dificuldade de fixação); percepção (confusão entre figuras, inversão de letras); sociabilidade (inibição social, agressividade) e também a indisciplina.

Então, os alunos estão aí, cheios de problemas e dificuldades. E as escolas? Será que estão preparadas para a demanda de problemas complexos onde estão incluídas inúmeras variáveis? São alunos, professores, organização curricular, metodologia, estratégias, recursos.

É importante salientar que a escola deve valorizar os muitos saberes do aluno oferecendo-lhe meios para que se desenvolva, produzindo conhecimentos importantes e necessários para sua vida futura, colocando-o em contato com suas habilidades e dificuldades, despertando sua imaginação e a criatividade.

Mas a educação não começa na escola. Ela começa muito antes e é influenciada por vários fatores. Ao longo do seu desenvolvimento físico e intelectual, a criança passa por várias fases nas quais o ambiente familiar, as condições sócio-econômicas, o lugar onde mora e outros, têm uma importância muito grande.

A origem da pesquisa partiu de uma experiência em comunidades como voluntária da Pastoral da Criança, bem como o interesse pelo tema: “Brinquedos e Brincadeiras”, da observação e da preocupação com as crianças e sua história de vida na comunidade que está inserida, diante da sua falta de interesse, do sofrimento em resolver problemas propostos. A ação se deu no sentido de provocar uma mudança de fracasso, para uma luta coletiva pelo sucesso na alfabetização e na vida dessas crianças.

A pesquisa na Creche foi realizada através de observações, conversas em diversos grupos, em reuniões de pais e algumas palestras.

Neste sentido, pretende-se fazer um aprofundamento teórico-prático quanto ao brincar como instrumento favorecedor do processo de aprendizagem e desenvolvimento das crianças de três a seis anos de idade, partindo do questionamento: As crianças de baixa renda de três a seis anos da cidade de Imperatriz, estão tendo acesso a atividades lúdicas como meio através do qual, famílias e escolas contribuem no seu aprendizado e desenvolvimento como um todo?

O presente trabalho visa à educação, a cultura e o lazer das crianças da comunidade JK. Para a revisão bibliográfica que subsidiará a elaboração deste, com propostas de diversos teóricos, se usará os métodos histórico-lógico, indutivo-dedutivo, se fará uma investigação de campo, através dos métodos analítico-sintético e qualitativo, a partir de observações e entrevistas, a fim de avaliar a prática da utilização do brincar como suporte de diagnóstico no contexto educacional e familiar da comunidade em questão.

O trabalho apresenta a partir daí algumas ações que poderão servir de exemplos a serem analisados pelas instituições que realizam trabalho educativo com um público similar ao deste estudo e que poderão ser utilizados pelas mesmas. Dessa forma, abordaremos o lúdico no contexto do diagnóstico psicopedagógico sem desconsiderar seu papel no processo de intervenção/prevenção.

O objetivo principal aqui é analisar qual a contribuição dos brinquedos e brincadeiras no desenvolvimento do processo de aprendizagem da criança, bem como diagnosticar como as famílias de baixa renda concebem e vivenciam o brincar; relacionar o ato de brincar e o ato de aprender, analisando os benefícios proporcionados ao desenvolvimento da criança, propor um conjunto de atividades e objetos lúdicos que devem compor as brinquedotecas e por fim, explorar a riqueza do brincar em uma brinquedoteca como uma forma de exercitar capacidades daqueles que de uma forma ou outra, estão encontrando alguma dificuldade em sua história escolar.

O estudo se divide em dois momentos distintosautores que tiveram a preocupação desde a antiguidade com o que se deveria conhecer e entender sobre crianças e seu desenvolvimento; autores que discutem a evolução do aprendizado diante do brincar e a importância do aprender de uma forma prazerosa, e aqueles que têm uma proposta na utilização de atividades lúdicas na educação. São citados também aqueles que vêm buscando uma melhor forma de explorar e inserir brinquedos e brincadeiras no contexto educacional, instigando assim um efeito positivo durante o processo diagnóstico e interventivo.

Em seguida, apresenta-se a pesquisa de campo com os dados obtidos.



DIVERSIDADE METODOLÓGICA NA EDUCAÇÃO DE CRIANÇAS: BREVE REVISÃO HISTÓRICA



A imaginação, a criatividade e a capacidade de transformar matérias primas em utensílios são as características básicas que separam o ser humano das demais espécies vivas. Essas condições foram adquiridas ao longo de milhares de anos, quando o homem passou a socializar-se, seja vivendo em comunidades ou pelo simples fato de domesticar alguns animais.

Em tempos de pré-história, pressupõe-se que o homem começou a fazer pinturas rupestres por acreditar que aquele desenho feito na parede da caverna traria a caça ao caçador. Um misto de superstição e necessidade impulsionou o homem primitivo à comunicação. Indubitavelmente, a utilização dos sentidos e as experiências vividas no cotidiano foram precípuas à formação do homo sapiens.

Na antiguidade se utilizavam doces e guloseimas em forma de letras e números para o ensino das crianças. Platão e Aristóteles utilizavam-se do brinquedo na educação, numa tentativa de associar a idéia de estudo ao prazer. Neste período detectou-se a importância da educação sensorial e conseqüentemente se utilizou o jogo didático, quando anteriormente, a brincadeira era considerada como recreação ou mesmo como objeto de fuga da realidade “e a imagem social da infância não permitia a aceitação de um comportamento infantil, espontâneo, que pudesse significar algum valor em si” (Wajskop, 2005,19).

Conhecida por seu obscurantismo intelectual, a idade média foi responsável pela estagnação científica na qual a sociedade européia permaneceu aproximadamente por um milênio. O domínio ideológico exercido pela Igreja Católica foi determinante para desacelerar o desenvolvimento das técnicas de ensino. Ao monopolizar a racionalidade, a Igreja pôde explorar com maior eficiência a população ignorante. Abominando o lazer e o prazer, transformou o aprendizado num processo cansativo e desinteressante.

Chegando o Renascentismo científico cultural intelectual, houve um resgate das ideologias greco-latinas, entre elas o epicurismo: a busca do prazer. Era importante, então criar mecanismos que tornassem as técnicas de ensino mais objetivas e interessantes. A partir desse período, inúmeros estudiosos preocuparam-se com tais questões e os jogos e brincadeiras inserem-se nesse contexto.

Porém, esta consciência pedagógica sobre a importância do espírito infantil (e conseqüentemente do lúdico) no processo ensino-aprendizagem, sofreu uma grave ruptura, como um ato desesperado de remissão de culpa, houve uma mudança para a paparicação; ato este condenável e objeto de discursos de vários militantes que instigando a sociedade a acreditar que a paparicação era para o seu próprio prazer e não para o afeto das crianças.

Deu-se início então, a uma escola que se reorganizou para se adaptar a essa função disciplinar, instrutiva e essencialmente contra a paparicação: uma instituição com regras discriminatórias por séries a partir de faixas etárias e do grau de conteúdo do ensino e prioritariamente uma escola com divisões internas para o estudo e para o lazer, tornando-se algo similar à escola contemporânea.

Apesar da função disciplinar do século XVII no século XVIII verificou-se uma tentativa de melhor estruturação da noção de infância. Rousseau, Pestalozzi e Froebel deram atenção especial à proteção da infância e ao modo que a criança deve viver essa fase da vida, pois acreditavam que a criança era portadora da verdade e concomitantemente a brincadeira infantil passou a ser respeitada.

A influência de tais idéias permitiu que fossem criados brinquedos voltados à educação sensorial. Wasjskop (2205,20) afirma que “esta valorização, baseada em uma nova concepção idealista e protetora da infância, aparecia em propostas educativas dos sentidos, fazendo uso de brinquedos e centrada no divertimento”.

Para Rousseau, a verdade dependia de uma “sinceridade do coração” e nada mais sincero que a criança, pois, na fase infantil o ser humano ainda não foi corrompido pela realidade social e cultural e só por isso detém o mérito de ser uma fase que deveria ser preservada.

Quando se fala em modernidade, contudo, não são necessários muitos anos para tirar o homem do seu estado natural e inseri-lo na sociedade contemporânea. A fim de tornar tal tarefa, cada vez mais rápida e eficiente, estudiosos desenvolvem maneiras de transformar crianças – supostamente representando o estado de natureza humana – no ser racional que poderá tornar-se.

Assim, creditando força ao pensamento do homem moderno que acreditava que, se existindo de fato e naturalmente a infância como uma fase especial da vida, havia necessidade de preservá-la, surge o brincar dirigido. Da observação analítico-comportamental de crianças na fase pré-escolar, os profissionais da área educacional se sentiam intrigados com o crescimento exploratório, interacional e criativo após as brincadeiras de faz-de-conta.

A partir de então, desenvolveram-se cada vez mais jogos, brincadeiras e outras maneiras de captar o interesse infantil pelo conhecimento. Friedirich Froebel, Maria Montessori e Decroly foram os primeiros pedagogos da educação pré-escolar a romper com a educação verbal e tradicionalista de sua época. Propuseram uma educação sensorial, baseada na utilização de jogos e materiais didáticos, que deveria traduzir por si só a crença em uma educação natural dos instintos infantis.

No movimento das Escolas Novas, que fazia oposição aos métodos tradicionais de ensino, que não respeitavam os mecanismos de evolução bem como a necessidade infantil, Maria Montessori se destacou por suas técnicas inovadoras, as quais são utilizadas ainda hoje não somente nas séries iniciais (três a seis anos para as quais originalmente foi criado), mas ampliaram-se indo desde o atendimento a mulheres grávidas (como orientador para o parto), como mediadoras nas dificuldades do Ensino Médio e até mesmo do Ensino Superior. “Pestalozzi deu às crianças a liberdade sem material; Froebel deu-lhes o material e Montessori deu-lhes a liberdade com material”.(Mafra, 1986,14).

Para abrir a via que levasse em conta a brincadeira, foi preciso perceber a criança como portadora do valor da verdade, da criatividade; foi preciso, sobretudo, que se desenvolvesse uma confiança quase cega na natureza. A brincadeira é boa porque a natureza pura, representada pela criança, é boa. Tornar a brincadeira um suporte psicopedagógico é seguir a natureza.

É por tudo isso que jogos educativos e brincadeiras que agucem os sentidos infantis proporcionam um aprendizado mais prazeroso. Crianças que brincam têm mais possibilidades de se tornarem jovens e adultos melhores, pois ajuda no desenvolvimento do raciocínio, ensina valores, alivia tensões, ensina a conviver a ter tolerância e o respeito às regras. É assim que os educadores deveriam despertar o interesse da criança sem que essa obrigação se tornasse demasiadamente cansativa para os pequenos.



BRINCAR E APRENDER



“Brincar e aprender são dois processos diferentes que se fazem em um mesmo espaço, descrito por Winnicott como espaço transicional, espaço da criatividade, espaço do jogar e eu acrescento espaço do aprender”. (Fernández, 2002, 101).

Longe de ser apenas uma atividade natural da criança, a brincadeira é uma aprendizagem social. As brincadeiras dos adultos com as crianças pequenas são essenciais nessa aprendizagem, pois a brincadeira permite decidir, pensar, sentir emoções distintas, competir, cooperar, construir, experimentar, descobrir, aceitar limites, surpreender-se, pois, “o brincar é o principal meio de aprendizagem da criança... a criança gradualmente desenvolve conceitos de relacionamentos causais, o poder de discriminar, de fazer julgamentos, de analisar e sintetizar, de imaginar e formular”. (Des, apud Moyles, 2002, 37).

Apesar de se saber que a criança não é um adulto que ainda não cresceu, que o importante não é ensinar, mas dar condições para que a aprendizagem aconteça e que hoje já existem pessoas preocupadas com os direitos das crianças, elas continuam desrespeitadas na sua condição de seres humanos em desenvolvimento.

Todas as crianças precisam brincar, mas nem todas têm oportunidade. Algumas porque precisam trabalhar, outras porque não têm com o que brincar, outras porque precisam estudar e conseguir notas altas.

Existem crianças socialmente prejudicadas, aquelas que não usufruem os benefícios de um lar e uma família organizada e muitas vezes sentem dificuldades em adaptar-se à escola.

São infinitas as oportunidades de descobrir e criar que estão presentes nas brincadeiras infantis. Mas, o brincar das crianças é considerado apenas uma recreação sendo que a atividade pedagógica é realizada em um outro ambiente, menosprezando assim as aquisições que essa brincadeira pode oferecer. Opondo-se a este pensamento, “a brincadeira é uma forma de atividade social infantil cuja característica imaginativa e diversa do significado cotidiano da vida fornece uma ocasião educativa única para as crianças” (Wajskop, 2005, 30).

Brincar tem características peculiares como o prazer, o desafio, limites, liberdade. Exige movimentos, flexibilidade e tem para a criança um caráter sério que não é feito de qualquer maneira, pois ela se empenha para realizar o seu melhor.

Brincando ela aprende a viver e a formar conceitos, avançando dessa forma, etapas importantes para o seu crescimento. Brincando a criança adquire experiências que serão indispensáveis no seu dia-a-dia, pois provoca, exercita, desenvolve o funcionamento do pensamento explorando suas potencialidades.

Maluf (2004, 33) pontua que “as crianças comunicam-se através do brincar e por meio dele tornam-se operativas”. A importância da brincadeira está intrinsecamente ligada ao seu valor operatório, pois, implica em assimilação de esquemas.

Pela necessidade que a criança tem de brincar é preciso criar sempre oportunidades em casa e na comunidade para que ela possa brincar livremente. Nenhuma criança brinca só para passar o tempo, brincar é sua linguagem secreta.

Além de deixar qualquer criança feliz, o brincar desenvolve os músculos, a mente, a sociabilidade, a coordenação motora e auxilia-a na superação de suas dificuldades. “Brincar é muito importante, pois enquanto estimula o desenvolvimento intelectual da criança, também ensina, sem que ela perceba, os hábitos necessários ao seu crescimento” (BETTELHEIM, apud MALUF, 2003, p.19).

Existem dois tipos de brincar: o brincar livre e o brincar dirigido. O brincar livre, conceitua-se pelo lúdico informal, geralmente no espaço familiar: de passeios, de comunicação, de informação, de descobertas, de assistir televisão, enfim, brincadeiras que, apesar de serem de iniciativa da criança, sem pretensões educativas, assumem características de aprendizagens consideráveis para ela, que se utilizando de conhecimentos pré-adquiridos, possibilitam a apreensão de novos, para apropriar-se de seu entorno, desenvolvendo sua cultura lúdica.

Agindo de forma lúdica, há possibilidade da criança assimilar a cultura do seu grupo social e interpretar os modos de vida adultos de forma participativa e essa cultura lúdica irá constituir uma bagagem cultural para a criança e se incorporar de modo dinâmico a uma cultura mais ampla.

É preciso lembrar que a cultura lúdica que evolui com a criança é em parte, determinada por suas capacidades psicológicas, as quais podem permitir ou impossibilitar algumas ações ou representações, pois o pensamento da criança evolui a partir de suas ações, por isso as brincadeiras são importantes para o desenvolvimento do pensamento infantil e “quanto maior for à imaginação das crianças, maiores serão suas chances de ajustamento ao mundo ao seu redor”.(CUNHA, 2001, p.23).

No que diz respeito ao brincar dirigido, ele é entendido à luz de algumas teorias sobre a aprendizagem, onde a atividade lúdica é direcionada para fins de aprendizagem e a criança vive experiências em níveis diferentes de complexidade e envolve assim através do brincar, suas capacidades cognitivas, ou seja, o brincar dirigido como um procedimento que pode compor o processo diagnóstico do psicopedagogo.

Portanto para dar mais sentido às brincadeiras, deve-se propor atividades que exercitem sua imaginação, criatividade, equilíbrio, agilidade de movimentos e raciocínio. Conseqüentemente, que o brincar livre e o brincar dirigido, desenvolvem-se em uma inter-relação positiva. No brincar livre, a criança utiliza sua cultura lúdica aliada ao que aprendeu no brincar dirigido. Por sua vez, será observado no brincar dirigido as experiências adquiridas pelo brincar livre com outras crianças.

Assim sendo, as crianças precisam de tempo, espaço, companhia e material para brincar. Desta maneira a escola pode e deve reunir experiências para que aprendam e assimilem nesse processo de descobertas que é fundamental para o seu desenvolvimento.

Na área da educação, a preocupação com o lúdico se manifesta apenas pela qualidade dos brinquedos disponíveis no acervo, sem se levar em conta os significados que esses objetos carregam. Não se trata de intervir psicopedagogicamente em toda a brincadeira, mas de compreender a especificidade e importância da intervenção e prevenção que pode existir na brincadeira, atentando para o fato de que hoje já não se pode mais educar apenas com lápis, papel, mesa e cadeiras,

O educador pode, portanto, construir um ambiente que estimule a brincadeira em função dos resultados desejados. Não se tem certeza de que a criança vá agir, com esse material, como desejaríamos, mas aumentamos, assim as chances de que ela o faça; num universo sem certeza, só podemos trabalhar com probabilidades. (Brougère, 2000,105).



A brincadeira com intenção psicopedagógica é aquela organizada de maneira que os participantes sejam ajudados a desenvolver confiança em si mesmo, em suas capacidades e a ser empático com os outros, ou seja, um ser pensante, com possibilidades de expansão no seu desenvolvimento pleno.



DIVERSOS OLHARES SOBRE O BRINCAR: VIGOTSKY, PIAGET, MONTESSORI, FERNÁNDEZ, MACEDO.



Estudiosos contemporâneos como Piaget, Vigotsky, Montessori Alicia Fernandes e Lino de Macedo deram um destaque especial ao brincar da criança atribuindo-lhe papel decisivo na evolução dos processos de desenvolvimento humano.

Para Vigostsky, no brincar, a criança está sempre acima de sua idade média, acima de seu comportamento diário. Assim na brincadeira, as crianças manifestam certas habilidades que não seriam esperadas para sua idade. Daí vê-se o quanto o brincar é benéfico ao aprendizado, pois a pessoa está em condição favorável para aprender.

Vigotsky diz que,

A promoção de atividades que favoreçam o envolvimento da criança em brincadeiras, principalmente aquelas que promovem a criação de situações imaginárias, tem nítida função pedagógica. A escola e, particularmente, a pré-escola poderiam se utilizar deliberadamente desse tipo de situações para atuar no processo de desenvolvimento das crianças. (Vigostsky apud Oliveira, 2004, 67).



Para ele a imaginação em ação ou brinquedo é a primeira possibilidade de ação da criança numa esfera cognitiva que lhe permite ultrapassar a dimensão perceptiva motora do comportamento. O brinquedo concede as estruturas básicas necessárias para as mudanças das necessidades e da consciência infantil, vivenciando uma experiência, no ato de brincar, como se fosse bem maior do que realmente é.

Piaget a reconhece como um instrumento que favorece o desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo e social principalmente no nos períodos sensório-motor e pré-operatório onde diz que “agindo sobre os objetos, as crianças, desde pequenas, estruturam seu espaço e o seu tempo, desenvolvem a noção de causalidade, chegando à representação e, finalmente, à lógica”. (Piaget, apud Kishimoto, 1996, 95).

Desse modo, deve-se então respeitar o interesse do aluno e trabalhar a partir da sua espontaneidade, formulando os desafios necessários à sua capacidade e acompanhando seu processo de construção do conhecimento.

Para esse autor, também é a representação em atos, através do jogo simbólico, a primeira possibilidade de pensamento propriamente dito, marcando a passagem de uma inteligência sensório – motora, para uma inteligência representativa pré – operatória.

Uma outra importante contribuição nesta temática foi a de Maria Montessori que desenvolveu um método e debruça-se sobre uma proposta educacional onde o aluno é o sujeito de sua própria educação proporcionando-lhes a possibilidade de vivenciar os valores que se propõe atingir ao longo da ação educativa que exercem, bem como, propiciar a liberdade de movimentos e autodisciplina e a autodeterminação. Nele o educando é educador de si mesmo, tendo a possibilidade de escolher seu trabalho, de se mover por conta própria, de se tornar responsável pelo seu progresso e crescimento. “Pelo método, o educando caminha para a independência e liberdade, numa atividade autodirigida”. ( Mafra, 1986, 22).

O método Montessori não foi inventado, foi construído no dia a dia da criança e colorida peças sólidas de tamanhos, formas e texturas diferenciadas fazem parte das estratégias propostas que aguçam os pequenos a abrir, fechar, encaixar, abotoar, tatear, calcular, contar e uma infinidade de outros atrativos que provocam o raciocínio e auxiliam todo tipo de aprendizado do sistema decimal à estrutura da linguagem.

O material dourado é um exemplo dos materiais criados por Maria Montessori que ainda hoje é largamente usado nas escolas públicas e particulares do Brasil e do mundo todo.

As contribuições dessa médica, pedagoga, antropóloga e psicóloga para a área educacional, são ainda hoje universais como se percebem na utilização da disposição circular dos alunos, os jogos pedagógicos sempre disponíveis, os cubos lógicos de madeira para o ensino de matemática, como também na utilização do preceito da criança ser o condutor do próprio aprendizado; o educador ser um mediador do conhecimento e ainda, a educação voltada para o desenvolvimento de seres humanos autoconfiantes e independentes que visam tanto o bem individual quanto o bem coletivo.

Na área Psicopedagógica, renomados autores como Sara Paín, Alicia Fernandes, Lino de Macedo, entre outros, chamam atenção para o fato do brincar como um trabalho preventivo e várias pesquisas demonstram que a eficácia tem influência dos professores podem estar enriquecendo seu trabalho, diversificando recursos,

Dada a amplitude dos fatores que intervêm na determinação das causas de dificuldades ou problemas de aprendizagem, o diagnóstico e tratamento psicopedagógico, além de outros, muito se vale dos procedimentos utilizados na psicoterapia e no psicodiagnóstico, dentre os quais encontra-se o jogo ou o brincar. (PAIN, apud SISTO, 2001 p. 174).



As crianças fazem da brincadeira uma ponte para o imaginário e a partir dele muito pode ser trabalhado. Contar, ouvir histórias, dramatizar, jogar com regras entre outras atividades constituem meios prazerosos de aprendizagem. Além disso, expressam suas criações e emoções, refletem medos e alegrias, desenvolvem características importantes para a vida adulta.

Com efeito, o brincar se constitui como recurso da psicopedagogia, tanto para tratar dos distúrbios, quanto levantar hipóteses diagnósticas, a respeito da estruturação lógica do pensamento nos fornecendo informações sobre como está organizados o pensamento da criança, seu nível operatório e sua elaboração prática nos processos de vencer situações problemas nos aspectos afetivos, sociais e cognitivos.

Mas como precisar a importância do brincar na escola? Como pensar no brincar como construção do conhecimento? Lino de Macedo faz uma argumentação eficaz quanto a isso “... o conhecimento tratado como um jogo pode fazer sentido para a criança. Não se trata de ministrar os conteúdos escolares em forma de jogo... mas possibilitar que aprendam com seriedade, com leveza e prazer; sem medo”.(Macedo, 1997, 139).

A postura psicopedagógica é propiciar modalidades de aprendizagem que possibilitem para cada ser aprendente sua singularidade através de experiências, e quanto a isso Fernández (2001, 71) diz que “o jogar-brincar da criança não só é produtor do sujeito enquanto sujeito desejante, mas também enquanto pensante. A inteligência se constrói a partir do jogar-brincar”.

Resgatar o prazer em aprender, já desconhecido por muitas crianças, e conseqüentemente proporcionar mais e melhores condições de desenvolvimento se faz necessário e urgente.

A importância do brincar tem sido evidenciada também em pesquisas recentes que levam a supor que o brincar pode aumentar certos tipos de aprendizagens, em particular, aqueles que requerem processos cognitivos mais elaborados Através da imaginação e da exploração, as crianças desenvolvem suas próprias teorias do mundo, que permitem a negociação entre o mundo real e o imaginado por elas. Assim, dando tempo para brincar, um ambiente para explorar e materiais que favoreçam as brincadeiras, os adultos estarão promovendo a aprendizagem das crianças.

As brincadeiras proporcionam o aprender fazendo e brincando, possibilita à criança apreender novos conceitos, adquirir informações e até mesmo superar dificuldades que venham a encontrar em suas tentativas de aprendizagem.

A sociedade em si reconhece o brincar como parte da infância. Essa nobre atividade é destacada como vimos nas várias concepções teóricas, onde cada um à sua maneira, mostra a importância da brincadeira para o desenvolvimento infantil como também para a aquisição de conhecimentos.

Diante da relevância do brincar para o desenvolvimento da criança viu-se a partir da década de 60 surgirem as brinquedotecas na Europa e no Brasil em 1980, estimulando instituições a destinarem atenção ao ato de brincar.

O professor Airton Negrine argumenta que

Quando estamos no âmbito de uma brinquedoteca infantil, podemos afirmar que é jogando que a criança constrói conhecimento. É através do jogo que os processos mentais elementares vão se transformando em processos mentais superiores. . . ao brincar a criança faz uma releitura do seu contexto sócio-cultural emergente, amplia, modifica, cria e recria através dos papéis que elege para representar. (Santos, 1997,86).



As funções das brinquedotecas mantêm um elo direto tanto com as crianças como também com contexto na qual está inserida. Entre elas, orbitam as funções: pedagógica, social e comunitária.

A brinquedoteca de cunho pedagógico é a que favorece a possibilidade de escolha de bons brinquedos para subsidiar a utilização dirigida das brincadeiras. Eles são classificados, organizados e catalogados pelas suas características, para que os educadores possam levá-los para a classe e usá-los em determinadas situações de aprendizagem.

Favorecer o acesso a brinquedos e aos jogos que normalmente as crianças de baixa renda não teriam possibilidades de contato, faz parte da função social da brinquedoteca.

Já a função comunitária prioriza a apreensão de conceitos como: respeito, ajudar e ser ajudado, cooperação e compreensão, com o auxílio dos jogos em grupo.

Como conseqüência imediata quanto à sua criação, a brinquedoteca pode adquirir várias características conforme a necessidade da comunidade que a originou.

A criação de uma brinquedoteca pode variar segundo o local, instituição mantenedora, faixa etária a que se destina ou até mesmo em relação às finalidades para as quais ela está sendo criada, considerando fundamentalmente o contexto sócio-cultural onde se insere. (Santos, 1997, p.85).



Dentro de uma perspectiva comunitária podemos destacar a ação da Pastoral da Criança, que norteada pelo seu principal objetivo que é o de mobilizar a família e toda a comunidade para que, num contexto de fé, desenvolvam ações voltadas para a melhoria da qualidade de vida das crianças, desenvolve o projeto “Brinquedos e Brincadeiras” que prioriza o estímulo de brincar nas comunidades, tendo como principal objetivo “estimular nas nossas comunidades o brincar como elemento indispensável ao pleno desenvolvimento das crianças”. (SANTOS, 1997, p.10). Tal projeto propõe assim a implantação de brinquedotecas comunitárias.

A brinquedoteca da Pastoral da Criança se difere das demais por não possuir locais e muito menos recursos para a reunião de um acervo de brinquedos, criando assim características próprias como:

A) O resgate da cultura local, através do estímulo às danças jogos, músicas e outras atividades lúdicas de cada comunidade;

B) O incentivo de brincar junto, em que as famílias, compreendendo a importância das atividades lúdicas, delas participem;

C) O estímulo a atividades realizadas em contato com a natureza;

D) A realização de oficinas de brinquedos, onde os adultos e adolescentes constroem, com material de baixo custo coletado pela própria comunidade, brinquedos que possam ser doados, emprestados ou trocados para as crianças menores;

E) A troca de brinquedos, quando as crianças e as famílias emprestam seus brinquedos industrializados ou construídos artesanalmente, para que todos tenham oportunidade de vivenciar brincadeiras diferentes.

Destaca-se aqui este projeto por ter sido a partir de experiências como voluntária do mesmo, que surgiu o interesse pela pesquisa em questão.



PESQUISA DE CAMPO



A pesquisa de campo ocorreu em uma comunidade da periferia de Imperatriz, onde famílias foram visitadas e acompanhadas em suas necessidades básicas de saúde, nutrição, educação e cidadania, contribuindo assim nas condições favoráveis ao desenvolvimento das crianças.

As famílias, a maioria de baixa renda, apresentam comportamentos diversos e formas variadas de relacionamentos. Alguns são jovens, alegres, bem dispostos, outros mais maduros, alguns mais cansados ou mais acomodados, outros displicentes, enfim, existe um conjunto de fatores que interferem no processo educativo, bem como o nível educacional, os padrões familiares, o meio em que vivem, os costumes e interesses de cada família.

No decorrer da pesquisa, verificou-se que a maioria das crianças acompanhadas de quatro a seis anos pela Pastoral da criança, estavam matriculadas em uma creche nos arredores da comunidade, então, além de se trabalhar com a família, percebeu-se a necessidade de investigar quanto à estrutura física, corpo docente, atividades oferecidas às crianças e ao modo de interagir da escola com a comunidade.

A creche oferece à comunidade três turmas nos períodos matutino e vespertino, sendo Jardim I, Jardim II e Alfabetização, com aproximadamente 60 alunos por turno entre quatro e seis anos de idade, tendo em seu corpo docente uma diretora, uma secretária, seis professoras formadas ou se formando em curso superior.

A pesquisa aconteceu durante quatro meses, de março a junho e ocorreu em dois momentos. No primeiro momento, observaram-se as atividades propostas pelos professores em geral e como as crianças respondiam a essas atividades. Num segundo momento houve a intervenção com a implantação da brinquedoteca e atividades selecionadas cuidadosamente para cada faixa etária.

A creche quanto ao seu aspecto físico, se apresenta com uma sala para a direção, três salas de aula, sendo duas dessas com banheiro (não adaptado às necessidades e ao tamanho das crianças), uma sala de TV e vídeo e uma sala onde ficavam as carteiras e os objetos em desuso. O pátio, pequeno para o número de crianças, na frente calçado com um pequeno jardim e o restante de areia. Nos fundos fica a cozinha e o refeitório

(que a tarde é presenteado com um sol escaldante) e uma passarela calçada, onde no decorrer de um trabalho sobre higiene bucal ficou o escovódromo que a escola possui há muito tempo e estava na sala dos materiais em desuso.

As salas de aula (que eram os quartos da casa onde hoje é a creche), só comportam as carteiras, não havendo espaço para as brincadeiras ou atividades em grupo.As tarefas são mimeografadas e as crianças têm o tempo livre para realizá-las, assim, alguns ficam em pé, outros saem da sala, alguns choram, outros ficam sem fazer.

No período da pesquisa, não presenciou-se momentos dedicados às brincadeiras, a não ser algumas músicas (que as crianças pediram), mas sem objetivos definidos.

Percebe-se no intervalo a desorganização, pois, as crianças não são levadas para lavar as mãos, fazendo fila para receberem a merenda, sentam-se (no período da tarde, no sol) comem, quando acabam vão brincando livremente umas com as outras formando uma correria sem controle, gerando um recreio, muitas vezes, violento.

As professoras, no intervalo ficam na cozinha tomando um cafezinho e conversando, só quando aparece alguém chorando é que tomam providências.

Percebeu-se durante a pesquisa que é preciso dar mais atenção às crianças, conhecê-las, pois pais e professores estão perdidos quando o assunto é educação. A sociedade não está valorizando a brincadeira como deveria, as pessoas não entendem sua importância no processo ensino-aprendizagem.

A família por sua vez, também peca, pois, as crianças não têm espaço e os pais sempre ocupados, não brincam com os filhos, as discussões e brigas em família é outro fator agravante. A criança precisa se sentir segura e isso se consegue com amor, atenção, compreensão, dos pais e educadores.

É urgente resgatar o afeto e o amor que as brincadeiras podem proporcionar, pois delas derivam o lazer, mas, para muitos, são atividades vistas sem importância. Diante das brincadeiras, as crianças desenvolvem segurança, aprendizado, solidariedade, capacidade de estar no lugar do outro.

A busca por novos caminhos na educação de crianças pequenas dá a possibilidade delas crescerem em contato com o mundo, pois quanto mais afeto, mais participação e mais desenvolvimento social e cognitivo.

A educação se dá na interação educador/ educando/ família. Na intenção do adulto para que o processo se realize na criança, então, a escola e a família têm uma missão e devem assumir esse compromisso com vontade, confiança, alegria, inspiração e principalmente dedicação e responsabilidade, para dar sentido à vida presente e futura das crianças envolvidas.

As idéias e experiências construídas ao longo dos anos são absorvidas e assimiladas como parte do nosso ser. Em vista disso, definir um assunto tão especial quanto o brincar infantil e colocá-lo em prática, tentando instigar outras pessoas permitindo assim que aprendam sobre as crianças e suas necessidades básicas no contexto educacional se fez necessário devido à situação atual da educação e as perspectivas em relação ao brincar.

As brincadeiras são instrumentos de realização para o ser humano e diante desse fato trabalhou-se para que as crianças pudessem ser acompanhadas com carinho, colaboração em todos os sentidos, acreditando no potencial de cada uma delas em desenvolver-se e assumir sua autonomia e confiança em si.

Pode-se usar a brincadeira como recurso psicopedagógico, então, buscou-se organizar na sala de objetos em desuso da creche, uma brinquedoteca. Selecionou-se então alguns materiais como caixas de vários tamanhos, garrafas de refrigerantes, tampinhas de várias cores, garrafas plásticas, embalagens vazias e com um pouco de criatividade e sem gastar praticamente nada, brinquedos como o vai e vem, o bilboquê, os instrumentos musicais e outros , foram confeccionados.

Além dos brinquedos de sucata, alguns brinquedos como bonecas, carrinhos, baldinhos de praia, foram doados, e alguns brinquedos pedagógicos foram comprados.

Foram estipulados com a direção da escola, dois dias para as brincadeiras e podia-se ver o brilho no olhar de cada uma das crianças. Os pais empolgados com a brinquedoteca na escola quiseram visitar e dar uma brincadinha; pena que o brincar ainda não é visto como uma possibilidade preventiva por alguns professores, mas com o trabalho na comunidade (a escola se dispôs a manter as portas abertas para as crianças em determinados momentos), com líderes e brinquedistas capacitados, com a formação continuada dos professores e o apoio da diretora, todos terão um novo olhar, uma nova concepção do brincar não só como diversão para as crianças e chatice para os adultos, mas uma etapa educacional que propicia conquistas, convívio social, vivências, escolhas, etc.

Percebe-se que a escola pode dar oportunidade de crescimento ao ser humano. Que um trabalho mesmo que voluntário, pode ser feito com responsabilidade. Que a educação em si não tem uma receita pronta. Que deve-se agir com compromisso para amenizar os males da sociedade. E esse estudo alcançou e possibilitou, apesar das barreiras encontradas, como o preconceito, o sentimento de incompetência, o distanciamento na interação pelas diversidades, a descontração e atitude positiva nas interações mais amigáveis entre as crianças.

Foi possível constatar que a interação através das brincadeiras e dos jogos propostos pode interferir positivamente no desenvolvimento e possibilitar aproximação dos envolvidos no processo, contribuindo assim, para a humanização.



CONCLUSÃO



Na realidade das pequenas escolas dos bairros de Imperatriz, bem como nas famílias que delas participam não se evidenciou a existência de uma cultura do brincar. Tampouco o brincar é visto como um meio desencadeador e estimulador da aprendizagem.

Assim, a prática educativa dessas escolas está marcada por conteúdos e tarefas, padronizados aos comportamentos da criança, gerando momentos de aprendizagem desestimulantes e distanciando-a dos problemas que irá enfrentar na escola e na vida.

Os processos educacionais reclamam atenção! São treinos sistemáticos, buscando uma única resposta certa para as questões; exercícios de prontidão que revelam sempre a mesma coisa; a criança exercita, ligando (quando sabe), coisas que combinam, objetos que se relacionam, procura sempre por cores e números iguais, numa metodologia em que folhas mimeografadas e o livro didático (quando usado) são senhores absolutos.

Tudo isso, numa fase em que a criança está no auge das descobertas. É necessário que, a todo instante, o professor tome consciência da timidez, da liderança, da criatividade, da inteligência e da agressividade dos seus alunos. É primordial que esse professor tenha a consciência que para um bom desenvolvimento do pensamento, da criatividade e da imaginação, são necessários movimentos que se aprendem na mais tenra idade.

Nas famílias, as crianças também não vivenciam o brincar como um momento útil à sua formação, pois seus pais geralmente são analfabetos e não incentivam e não investem na brincadeira, sendo a participação da família essencial à medida que proporciona o prazer de estarem todos juntos.

Dessa forma, as crianças que vivem nesses contextos deixam de usufruir dos benefícios que o brincar poderia lhes proporcionar se fossem lhes dado tempo e espaço apropriados e suficientes para tal. Neste sentido, embasados na teoria sobre o tema em questão, pode-se dizer que tais crianças, atualmente estão tendo prejuízos em seu desenvolvimento de um modo global, por não vivenciarem experiências suficientes e enriquecedoras do brincar nessa fase da vida, não se preparando assim, para o ingresso no ensino fundamental.

Não obstante a tal realidade, a partir de uma intervenção aos moldes do que propõe a Pastoral da Criança, verificou-se que a informação faz a diferença. Conscientizar a família, professores e a comunidade sobre o sentido e a importância da educação diferenciada, estabelece um melhor aproveitamento das habilidades e capacidades desenvolvidas pelas crianças.

Um buscar constante, criando estratégias diferenciadas para a aprendizagem e para a construção da qualidade de vida. Esse é um desafio para quem escolheu tornar o espaço escolar e familiar o mais mágico possível, pois é esse espaço que lá no futuro, as crianças de hoje vão lembrar, em sonhos, fantasias, lembranças, brincadeiras...

Uma das contribuições da Psicopedagogia na instituição escolar é levar a vivência aos pequeninos, para que descubram o prazer de pensar que conduz certamente a uma aprendizagem e a um desenvolvimento pleno.



referências



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Artigo apresentado ao curso de Pós-Graduação em Psicopedagogia da Universidade Estadual do Maranhão, como requisito para obtenção do título de Especialista em Psicopedagogia.



Orientadora: Profª. Ms. Ana Meire Filgueira.



disponivel em http://www.abpp.com.br/monografias/01.htm acessado dia 23/10/2011

A Importância da Afetividade no Processo de Cognição

A Importância da Afetividade no Processo de Cognição

- Afetividade e Cognição: Caminhos que se Cruzam

Natália de Cássia Oliveira da Silva Jusani,

Pós-graduanda em Psicopedagoga do Centro Universitário da Grande Dourados-UNIGRAN

Junho/2009







RESUMO



Este artigo tem como objetivo destacar a importância da afetividade nas relações sociais, principalmente no contexto escolar, enfatizando a importância da relação afetiva professor- aluno e a sua relevância para o processo de ensino – aprendizagem. Busca-se ainda neste trabalho fazer reflexões relativas à importância do vínculo familiar neste processo bem como mostrar de que maneira as relações afetivas contribuem no processo cognitivo.



Palavras-Chave: Afetividade. Cognição.



ABSTRACT



This article aims to highlight the importance of affection in social relations, especially in the school context, emphasizing the importance of affective teacher-student relationship and its relevance to the teaching process - learning. Search is still thinking in this paper on the importance of family ties in this process and to show how affective relations help in learning process.



Keywords: Affectivity. Cognition.



1. INTRODUÇÃO



Em nossa sociedade, principalmente no âmbito do contexto escolar, muito se tem discutido acerca dos problemas relacionados às dificuldades que os alunos encontram durante o processo de construção do conhecimento assim como sobre a dificuldade que alguns professores têm encontrado diante de tal situação.
O que ocorre no âmbito escolar hoje é que, o que se tem ensinado em sala de aula acaba caindo num grande vazio devido ao distanciamento que existe entre o professor e o aluno. Na verdade, pouco se tem pensado – dentro das escolas, sobre o valor que a afetividade tem na construção do conhecimento; pouco se tem falado acerca da importância de existir uma relação harmônica, confiável entre professores e alunos e destes com toda a comunidade escolar.
É necessário que se reflita sobre os tipos de relação que existem no contexto escolar e mais, sobre o papel da família, sua influência e importância durante o processo de aquisição, construção do conhecimento; já que o ser humano é um ser social, e como tal, precisa ter um bom relacionamento, entendimento com aqueles que de fato são responsáveis por gerir este processo.
Uma interação mútua entre professor e aluno e deste com a família, pode evitar problemas como distúrbios na aprendizagem já que a afetividade, assim como aspectos emocionais, está presente no processo de construção do conhecimento.
O ser humano como fruto da sua interação com o mundo, forma sua personalidade, desenvolve habilidades, adquire e reformula conhecimentos a partir da sua relação com o outro.
É através do convívio com o outro, que o individuo desenvolve sentimentos, afetividades que facilitam sua interação e dão acesso a novos conhecimentos. Sendo assim, é preciso que haja um vínculo afetivo entre todos aqueles que estão envolvidos no processo de aprendizagem - família, aluno e professor, para que o aprendizado se dê de forma satisfatória e seja prazeroso.



2. ALUNO - AFETIVIDADE - PROFESSOR: UMA TRÍADE QUE DÁ CERTO



“A verdadeira viagem da descoberta

não consiste em procurar novas paisagens,

mas em possuir novos olhos.”

Marcel Prost

Depois da figura da família, o professor é a figura que ocupa grande importância na vida do aluno, pois ele não é apenas mediador entre o aluno e o conhecimento, ele divide angústias, dúvidas, É ele quem com calma e firmeza ensina o aluno a dar seus primeiros passos, direcionando-o a teia que é o mundo do conhecimento.
Segundo Balestra (2007) o professor é o elo fundamental, indispensável para estabelecer a interação aprendente - objeto de conhecimento, e para que esta interação se dê, os laços de confiança e afetividade entre aquele que ensina e aquele que aprende devem estar bem consolidados pois “a afetividade deve ser vista como a força motriz que impele o sujeito para o conhecimento.” (PIAGET apud BALESTRA, 2007:42).
Enxergar o aluno como um ser que já vem para a escola com uma bagagem de conhecimento, com um conhecimento de mundo construído é fundamental para que se firmem laços com o ser aprendente. Durante o processo de aquisição do conhecimento, respeitar o que o aluno traz de conhecimento externo ao ambiente escolar, assim como seu tempo de aprender é muito importante para que a aprendizagem ocorra naturalmente, pois:



Saber algo a respeito de certo objeto não quer dizer, necessariamente, saber algo socialmente aceito como “conhecimento”. Saber quer dizer ter construído alguma concepção que explica certo conjunto de fenômenos ou de objetos da realidade.

(FERREIRO, 1981:17)

Tal respeito contribui para o processo de ensino – aprendizagem já que “a afetividade e a inteligência são, portanto, indissociáveis e constituem os dois aspectos complementares de toda conduta humana.” (PIAGET, 2001:22). Assim, a aproximação, o despertar para os vínculos afetivos é um fator primordial e de extrema importância durante o processo de cognição.
Segundo ainda Piaget (2001) em todas as fases da vida humana os vínculos afetivos são fatores determinantes, o que pode resultar numa melhor integração deste com o meio social ou, quando os vínculos não acontecem, num distanciamento daquele com este meio gerando problemas como os distúrbios de aprendizagem.
Desta forma, então, é correto afirmar que a aprendizagem está ligada à afetividade, ambas caminham juntas, sendo importante assim, que sejam criados no ambiente escolar, mecanismos para que afetividade e aprendizagem ocorram e se completem, no intuito de se obter um resultado prazeroso – que é a construção do conhecimento, tanto para o educando, quanto para o educador.
É preciso que o educador crie vínculos com seus alunos para que possa criar situações de aprendizagem, pois “o objeto a ser conhecido deve contemplar os interesses que caracterizam a fase de desenvolvimento mental em que se encontra a criança.” (BALESTRA, 2007: 36) e mais, o equilíbrio cognitivo necessita da afetividade (do interesse, da vontade, da motivação que deve ser despertada pelo professor) para que haja a construção de novas estruturas intelectuais.
Em outras palavras, o professor tem que muitas vezes se despir de velhos paradigmas e métodos para que seja possível aproximar o aluno do objeto a ser conhecido, pois segundo Balestra (2007) tal objeto deve ser desafiador, tem que ser significante, provocar a ação do ser cognoscente. Ou seja, muitas vezes, para criar situações de aprendizagem além do aspecto afetivo é preciso mudar a metodologia, buscar outras fontes, mudar o tom de voz, já que o ser aprendente é como o vaso na mão do oleiro, deve ser moldado cuidadosamente, com carinho, para que suas estruturas no campo da construção do conhecimento não se quebrem, para que assim o aprendizado se dê como um ato motivador.
Em suma, mais do que professores bem titulados e equipamentos modernos, as relações estabelecidas na escola necessitam de mais afetividade, pois:
O grau de afetividade que envolve a relação do (a) professor (a) com os seus pares representa o fio condutor e o suporte para a aquisição do conhecimento pelo sujeito. O aluno, especialmente o da educação infantil, precisa sentir-se integralmente aceito para que alcance plenamente o desenvolvimento de seus aspectos cognitivo, afetivo e social.

(BALESTRA, 2007:50)





3. O PAPEL DA FAMÍLIA NA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO



Como é sabido a família é o alicerce que rege a vida de todo ser. É ela que primeiramente apresenta o mundo do conhecimento à criança, já que este não é adquirido somente no âmbito escolar.
O primeiro conhecimento que qualquer indivíduo possui antes de ingressar na escola é o conhecimento prévio, ou conhecimento de mundo – como assim também é chamado, e este, ao contrário do ambiente escolar, não precisa de regras pré-estabelecidas, ele ocorre naturalmente, através do contato social do indivíduo com a família e destes com o mundo que os cerca.
É na família que a criança faz seus primeiros vínculos afetivos e é por meio dela que o individuo é apresentado ao mundo cultural. Ela é a grande responsável pela educação das crianças e também da sua aprendizagem e é por meio desta aprendizagem que o individuo começa a construir saberes.
Porém, embora a família seja tão importante, parte fundamental na formação de um indivíduo, o que se vê hoje é que os pais se eximem de seu papel e principalmente, da vida escolar, do processo de construção do conhecimento de seus filhos, que começa em casa.
A relação afetiva que uma criança tem em casa irá contribuir negativa ou positivamente no seu desempenho escolar. Os anseios e as expectativas que a família tem sobre a criança são muito relevantes tanto em sua formação acadêmica quanto pessoal, pois a criança espera ser admirada, elogiada, motivada, amada, e quando isto não acontece, ela se sente desestimulada, não produz, não vê satisfação, prazer no ato da aprendizagem.
Vale aqui acrescentar, que o acompanhamento da vida escolar do aluno pelos pais é muito importante. Segundo relata os estudos piagetianos, a afetividade é uma valiosa contribuição para a educação da criança na família e, especialmente na escola, no entanto, “o acompanhamento de seu desempenho escolar, ou seja, do processo cognitivo, é importante, mas o aspecto afetivo não pode ser negligenciado em nenhum momento do desenvolvimento infantil, principalmente na vida escolar.” (BALESTRA, 2001: 49).
Todo e qualquer acontecimento dentro do âmbito familiar é refletido na escola, se os pais não vão bem e não apresentam um vínculo afetivo com seus filhos, no âmbito escolar, a criança tende a apresentar problemas de aprendizagem e sua vida acadêmica pode se tornar um fracasso.
Desta forma cabe as famílias propiciar um ambiente saudável, que ofereça e estimule o desenvolvimento afetivo e cognitivo da criança. O ambiente familiar é o local onde, de fato, a criança desenvolve suas capacidades emocionais e intelectuais. E os aspectos emocionais conforme Weiss (2008) estariam ligados ao desenvolvimento afetivo que tem extrema importância na construção do conhecimento e na expressão deste através da produção escolar.
Ao contrário do ambiente escolar, onde o aprendizado se dá de maneira mais objetiva, no contexto familiar a aprendizagem ocorre, sem dúvidas, de forma bem mais subjetiva, livre, significativa e espontânea, daí a importância de que haja uma relação de diálogo e afetividade ente o ser aprendente e sua família.
Em resumo, a afetividade familiar é muito importante, como é importante também que escola e família caminhem juntas numa constante interação, pois assim o aluno poderá ter um desenvolvimento cognitivo maior e um ajustamento cultural e emocional mais adequado. Família e escola devem ser parceiras e aliadas para que lado a lado possam encontrar meios para resolver problemas como as dificuldades de aprendizagem.



CONSIDERAÇÕES FINAIS



A afetividade mais do que mola propulsora do aprendizado é o fator primordial, que define, que delimita os campos que o aluno irá trilhar durante o processo de cognição. E sendo assim, família e professores devem cultivar este sentimento para que a aprendizagem não se torne um fracasso.
Mais do que metodologias modernas de ensino, equipamentos sofisticados e uma boa titulação, o professor deve ter a consciência de que ele é o responsável pelo processo de aprendizagem dentro da instituição escolar, e como tal, a motivação, o interesse, o prazer em construir e desconstruir conhecimento é responsabilidade sua. É ele quem deve despertar no aluno o gosto pelo aprendizado, e mais do que isso, é ele quem deve pegar o aluno pela mão e acompanhá-lo durante suas primeiras passadas no mundo do conhecimento.
Vale acrescentar porém, que para que o processo cognitivo se dê por completo no âmbito escolar, ou seja, para que a relação professor-aluno possa resultar em ponte para o conhecimento, as relações familiares do aluno também devem ser nutridas, já que a família é a instituição mais importante da vida de qualquer individuo.
O professor, sem dúvidas, é muito importante no processo cognitivo, mas a família também, já que é no seio familiar que ocorrem as primeiras aprendizagens. Mais do que participar do processo de aprendizagem de seus filhos, os pais ou responsáveis pelo ser aprendente devem ter uma relação afetiva consistente com este, já que o processo de cognição envolve tanto aspectos sociais, orgânicos, pedagógicos, quanto emocionais e cognitivos. E isso significa que se o individuo não estiver bem em suas relações sociais, familiares, fora do contexto escolar; dentro da escola, seu aprendizado poderá estar comprometido.
Então, família e escola devem caminhar juntas, criando oportunidades, nutrindo o prazer pelo aprendizado, despertando no ser aprendente quão prazeroso pode ser trilhar o mundo do conhecimento, quando se está disposto para isso. Mais do que parceiro, o professor é a família do aluno dentro de sala de aula, é seu espelho, assim como os pais são os professores de seus filhos fora do ambiente escolar. Portanto, o ato cognitivo deve ser acompanhado afetivamente por todos aqueles que são parte deste processo e que podem contribuir para torná-lo mais prazeroso: pais e professores.



Bibliografia



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FERREIRO, Emília. Reflexões sobre alfabetização. 24ª edição atualizada. São Paulo: Cortez Editora, 1981.



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disponivel em http://www.abpp.com.br/monografias/12.htm acessado dia 23/10/2011

Piaget, Vygotsky e Winnicott: relação com jogo infantil e sua aplicação na área da psicopedagogia

Piaget, Vygotsky e Winnicott: relação com jogo infantil e sua aplicação na área da psicopedagogia


Eunice Eichelberger de Oliveira

novembro/2006

Introdução

Este artigo tem por finalidade fazer um breve resumo dos autores, Piaget, Vygotsky e Winnicott sobre o que eles dizem em relação aos jogos infantis - pontos comuns e divergentes, além de uma pequena comparação de como estas teorias podem ser usadas na profissão - de psicopedagogos.

Desenvolvimento

Para Piaget, o jogo é essencial na vida da criança, pois prevalece a assimilação. No jogo, a criança se apropria daquilo que percebe da realidade. Defende que o jogo não é determinante nas modificações das estruturas, mas pode transformar a realidade.

Piaget classifica em fases o desenvolvimento do jogo na criança:

Primeira fase: adaptações puramente reflexas. A criança age conforme os instintos essenciais, como por exemplo, a sucção como refeição.

Segunda fase: as condutas adaptativas continuam, mas começam com uma diferenciação: a dualidade. Como exemplo, temos os jogos da voz, as primeiras lalações.

Um esquema jamais é por si mesmo lúdico, ou não-lúdico, e o seu caráter de jogo só provem do contexto ou do funcionamento atual. Mas todos os esquemas são suscetíveis de dar lugar a essa assimilação pura, cuja forma extrema é o jogo.

Terceira fase ou fase das relações circulares secundárias: o processo se mantém inalterado, mas a diferença entre jogo e assimilação intelectual é mais nítida. Nesta fase a criança aprende a manipular objetos, descobre que eles fazem barulho. O Jogo é compreendido e não oferece mais novidade.

Quarta fase ou fase da coordenação dos esquemas secundários: prolongam-se as manifestações lúdicas, pois elas são executadas por pura assimilação, por prazer e sem esforço, tendo em vista atingir uma finalidade. Esta modalidade de esquema permite a formação de verdadeiras combinações lúdicas, passando de um esquema a outro para assegurar-se deles, e sem esforço de adaptação. Consiste em repetir e associar os esquemas já constituídos, com um fio não lúdico.

Quinta fase: acontece a transição entre as condutas rituais e o símbolo lúdico, onde as manifestações aparecem com uma fertilidade muito maior de combinações. O jogo se apresenta como uma ampliação da função de assimilação, para além dos limites da adaptação atual.

Sexta fase: nesta fase o lúdico desliga-se do ritual, sob a forma de esquemas simbólicos, graças ao progresso de sua representação. Isso se concretiza quando a inteligência experimental passa a uma combinação mental, a imitação externa à imitação interna. Há símbolos, e não apenas um jogo motor, porque há assimilação fictícia de um objeto ao esquema, o seu exercício resulta na acomodação.

Piaget classifica os jogos segundo sua evolução, em três grandes estruturas: jogos de exercício, simbólicos e de regras.

Jogo de exercício: A principal característica deste estágio, que Piaget classifica como período sensório-motor, é obter a satisfação de suas necessidades. Com a ampliação dos esquemas, a criança vai cada vez se tornando mais consciente de suas potencialidades, colocando em ação um conjunto de condutas, sem modificar as estruturas, onde as ações ficam dirigidas somente para atingir seu objetivo maior que é a prazer. Exemplo: O bebê mama não apenas para sobreviver, mas porque descobre o prazer de mamar, à medida que satisfaz sua fome. É isso que o faz chupar a chupeta, mesmo que não saia alimento nenhum, esse exercício lhe dá um enorme prazer.

O jogo de exercício é essencialmente sensório-motor, (aparece até mais ou menos dois anos de idade) portanto, o primeiro a aparecer na criança, mas também pode envolver as funções superiores de pensamento. Este jogo estará presente em todos os estágios da nossa vida, inclusive adulta, pois o prazer deve estar sempre presente em tudo que fazemos.

Jogo simbólico: Segundo Piaget, estes jogos fazem parte da fase pré-operatória (dos dois aos seis anos de idade), onde a criança, além do prazer, começa a utilizar a simbologia. A função simbólica já está estruturada e começa a fazer imagens mentais, já domina a linguagem falada. Exemplo: A criança tem a possibilidade de vivenciar aspectos da realidade, muitas vezes difícil de elaborar: a vinda de um irmãozinho, mudança de escola ou situações boas como: ser um super-homem, imitar a mãe ou pai.

Jogo de regras: de acordo com Piaget, este jogo acontece a partir dos sete anos de idade, no período operatório concreto - a criança aprende a lidar com delimitações no espaço, no tempo, o que pode e o que não pode fazer. Ao invés de símbolo, a regra supõe relações sociais, porque a regra é imposta pelo grupo e sua falta significa ficar de fora do jogo. Exemplo: lidar com perdas e ganhos, estratégia de ação, tomada de decisão, análise dos erros, replanejar as jogadas em função dos movimentos dos outros.

Cada estágio do desenvolvimento descrito por Piaget tem uma seqüência que depende da evolução da criança, do nascimento até o final da vida. Uma fase se interliga com a outra de forma que o final de uma se confunde com o começo de outra. A evolução começa com a fase puramente reflexiva, passando pela assimilação, pelo simbolismo até chegar à acomodação.

Vygotsky afirma que a fala diferencia a criança de um macaco. A fala e o uso dos signos faz com que a criança tenha controle sobre o seu comportamento. Para o pesquisador, a fala e a ação fazem parte da mesma função psicológica complexa. Quanto mais complexa a ação maior a importância da fala.

A capacidade da linguagem habilita a criança a providenciar elementos que a auxiliam na resolução de problemas antes de sua execução e controla seu próprio comportamento.

Conforme Vygotsky, o sujeito é interativo e, por este motivo, dá tanta importância a fala. Estabelece uma relação estreita entre o jogo e a aprendizagem. Diz que o desenvolvimento cognitivo resulta da interação entre a criança e as pessoas com quem mantém contatos regulares. O aprendizado da criança começa antes do seu ingresso na escola. Desta forma, a escola sistematiza o aprendizado, que inicia no primeiro dia de vida - a aquisição do conhecimento se dá através das zonas de desenvolvimento: real e proximal.

Zona de desenvolvimento real: é a do conhecimento já adquirido, o que a pessoa traz consigo.

Zona de desenvolvimento proximal: define como a diferença entre o desenvolvimento atual da criança e o nível que atinge quando resolve problemas com auxílio, com orientação de pessoas mais capazes, que já tenham adquirido estes conhecimentos.

O aprendizado cria a zona de desenvolvimento proximal e acorda vários processos internos de desenvolvimento, que operam quando a criança interage com outras pessoas, em cooperação. Uma vez internalizados estes processos tornam-se parte das aquisições do desenvolvimento independente.

O aprendizado está relacionado com o desenvolvimento da criança, mas eles não andam de forma paralela. O desenvolvimento da criança nunca acompanha o aprendizado escolar.

Vygotsky fala do faz-de-conta. Diz que as maiores aquisições das crianças são conseguidas no brinquedo, que no futuro se tornarão níveis básicos do real e da moralidade.

Vygotsky diz que as habilidades humanas começam pelos três anos de idade. No brinquedo, a criança projeta-se nas atividades adultas de sua cultura e ensaia seus futuros papéis e valores. Assim, o brinquedo antecipa o desenvolvimento que só pode ser completamente atingido com assistência de seus companheiros da mesma idade e mais velhos.

Durante a brincadeira, todos os aspectos importantes da vida da criança tornam-se tema do jogo.

Vygotsky vê a aprendizagem como um processo social. A interação com os adultos e a linguagem fazem o desenvolvimento cognitivo acontecer.

Winnicott observa que os bebês tendem a usar os punhos e os dedos para satisfazerem seus instintos. Após alguns meses passam a usar algum objeto especial para substituir este meio de estimulação e tem a capacidade de reconhecer este objeto como “não-eu”. Adquirem também, a capacidade de criar, imaginar, inventar, produzir um objeto e estabelecer uma relação afetuosa com este objeto.

Se fôssemos esquematizar o que Winnicott chama de desenvolvimento normal, teríamos a inauguração dos fenômenos transacionais, com a utilização de um objeto transicional, o início do brincar, o brincar compartilhado e a experiência cultural, com a criança investindo e compartilhando das conquistas de sua cultura.

Fenômenos transicionais: é justamente a transferência que ocorre na troca do uso do dedo ou polegar para a utilização de um objeto como o “não-eu” a que ele chama de objeto transicional. Este objeto é reconhecido pelos pais e é carregado para todos os lugares, pois ele representa conforto e segurança para o bebê.

Quando o simbolismo é empregado, o bebê já está claramente distinguindo entre fantasia e fato, entre objeto externo e interno, entre criatividade primária e percepção.

Winnicott diz que o brincar tem um lugar e um tempo, acontecendo primeiro entre mãe e bebê, segundo as experiências de vida. Brincar facilita o crescimento e, portanto, a saúde, além de conduzir aos relacionamentos grupais. “Brincar é fazer.”

No brincar, a criança manipula fenômenos externos a serviço do sonho e veste fenômenos externos, escolhidos com significado e sentimentos oníricos.

Há uma evolução direta dos fenômenos transicionais para o brincar, do brincar para o brincar compartilhado, e deste para as experiências culturais.

O brincar envolve o corpo devido à manipulação de objetos. A criatividade é fundamental e é através dela que o indivíduo sente que a vida é digna de ser vivida.

Em todas as fases da vida, o mediador é fundamental para o sucesso no desenvolvimento do bebê, criança, adolescente, adulto ou velho. Tudo acontece com um mediador, com interação: o segurar, o manejar, a apresentação de objetos, a destruição do objeto, a sobrevivência à destruição.

Quando essa interação é feita com confiança, se a tarefa da mãe é cumprida na sua integralidade o desenvolvimento emocional e mental do bebê e da criança é conseguido sem conseqüências negativas.

Diferenças e semelhanças entres as três teorias

Enquanto Piaget fala em estágio de desenvolvimento, influência da estrutura cognitiva, Vygotsky fala em interação da linguagem, interação entre o meio (cultura) e a criança, em zona de desenvolvimento proximal. Já Winnicott fala em mediação, em compartilhamento de experiências.

Piaget estabelece fases para o desenvolvimento e diz que todo mundo tem condições iguais para aprender. Diz que a criança assimila no jogo o que percebe da realidade e que o jogo não é determinante nas modificações das estruturas. Fala do jogo simbólico.

Para Piaget, o símbolo nada mais é do que um meio de agregar o real aos desejos e interesses da criança.

Vygotsky diz que o desenvolvimento ocorre no decorrer da vida, não estabelece fases para este desenvolvimento, que ele depende do meio em que se vive, da cultura. Diz que o jogo proporciona alteração das estruturas. Lembra do faz-de-conta.

Para Vygotsky, o exercício do simbolismo ocorre quando o significado fica em primeiro plano. Na medida em que cresce, a criança impõe ao objeto um significado.

Os dois falam em jogo de regras. Piaget diz que a criança aprende o jogo de regra através de um engajamento individual na solução do problema. Para Vygotsky, entretanto, o jogo de regra é aprendido com a interação com os outros.

Piaget entende que o jogo é assimilação - constituem-se em expressão, enquanto Vygotsky assegura que a criança cria a partir do que conhece, das oportunidades do meio, em função de suas necessidades.

Para Winnicott, a brincadeira traz a oportunidade para o exercício da simbolização e é também uma característica humana.

Observa-se que há um ponto em comum entre os pesquisadores: dentro do seu tempo, os três concordam que o brincar é fundamental no desenvolvimento da criança.

Conclusão

Pela importância que estes três autores tiveram na análise do jogo no desenvolvimento humano é possível fazer uma rica relação com a profissão de psicopedagogo. Afirmar que o jogo é um elemento fundamental na nossa inserção no mundo, o simbólico, a atividade lúdica é ação/reação/conduta, fica mais fácil de analisar as idéias dos autores.

As estruturas mentais propostas por Piaget, a classificação dos jogos em jogos de exercício, simbólicos e de regras são fundamentais para que possamos entender o desenvolvimento. Permitem ao psicopedagogo uma possibilidade de intervenção dentro de faixas etárias, permitindo o uso de jogos da forma mais racional possível.

De Vygotsky aprendemos que a prática psicopedagógica adequada é não somente deixar as crianças brincarem, mas, fundamentalmente ajudá-las a brincar, brincar com as crianças e até mesmo ensiná-las a brincar.

Quando há dificuldades na aprendizagem, o psicopedagogo pode se colocar como mediador, estabelecendo uma interação com a criança, segundo Winnicott.

Concluímos que o brincar, o jogo, é uma forma de contextualizar, construir e ampliar novos conhecimentos e, desta forma, valorizar o tempo / espaço de jogar de cada um de nós. Podemos ser agentes facilitadores, fundamentais na evolução de crianças e nossa própria evolução com aprendentes.



Referências Bibliográficas

PIAGET, J. (1946). “A formação do símbolo na criança”. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.

VYGOTSKY, L. “A formação social da mente”. São Paulo: Martins Fontes, 1984.

WINNICOTT, D. “O brincar e a realidade”. Rio de Janeiro: Imago, 1975.

*Aluna da Graduação de Psicopedagogia Clínica e Institucional do Centro Universitário La Salle – UNILASALLE. Orientada pela Professora Dra. Cecília Marió Michels na disciplina de Fundamentos Psicopedagógicos do Jogo.





Disponível em http://www.abpp.com.br/artigos/61.htm acessado dia 23/10/2011



Contributos do Jogo no Desenvolvimento da Criança

Contributos do Jogo no Desenvolvimento da Criança

Beloni Maria Nardi

novembro/2006

Introdução

O desenvolvimento da criança e a relação com o brincar e o jogo é de fundamental importância para o profissional da psicopedagogia possibilitando a compreensão das relações e entendimento através do jogo e do que a criança quer nos dizer quando brinca, quando joga. Essa atividade pode nos dar respostas quando a criança não consegue expressar-se verbalmente ou por ser muito pequena ou quando por algum motivo ou algo muito marcante negativamente a impede de expressar-se verbalmente e o faz através do jogo. Por esse motivo ressalta-se da importância do estudo de teorias como: Piaget, Vygotsky e Winnicott entre outros. Interessam-nos suas idéias e experiências sobre o assunto o que nos permite ter uma visão mais ampla e clara sobre o tema e que poderá contribuir em nossas atividades.

Desenvolvimento

Tratando-se dos estágios gerais da atividade representativa, para Piaget há três formas de pensamento representativo que são: a imitação, jogo simbólico e a representação cognitiva, solidária entre si e que evoluem em função do equilíbrio progressivo da assimilação e acomodação, (dois pólos da adaptação) e que determina o desenvolvimento sensório-motor.

A formação da linguagem, dos signos é algo social e coletivo. Através da evolução de seu pensamento a criança vai melhorando sua comunicação verbal com isso adapta-se às operações lógicas, porém inadequada à descrição individual de objeto ou a representação espacial infralógico. Não conseguindo ainda descrever detalhadamente experiências pessoais vividas.

Piaget caracteriza os jogos em três grandes tipos de estruturas: jogos de exercício, simbólico e de regras, constituindo os jogos de “construção” a transição entre os três e as condutas adaptadas.

O jogo de exercício que vai entre (0-2 anos), é, portanto o primeiro a aparecer e o que caracteriza o desenvolvimento pré-verbal ao qual tem início o jogo simbólico.

Na criança, a atividade lúdica supera os esquemas reflexos e prolonga quase todas as ações, com isso a noção do jogo de “exercício” pode ser assim pós-exercício marginal, tanto quanto pré-exercício. Nesta fase a criança é egocêntrica sendo que ela brinca sozinha ou com a mãe.

O jogo simbólico tem início entre (2-6 anos), onde o símbolo implica a representação de um objeto ausente, (o jogo de faz de conta) visto ser comparação entre um elemento dado e um elemento imaginado, (representação fictícia), porquanto essa comparação consiste numa assimilação deformante. Ex: a criança que desloca uma caixa imaginando ser um automóvel representa simbolicamente, este ultima pela primeira e satisfaz-se com uma ficção, pois o vínculo entre o significante e o significado permanece subjetivo.

A diferença entre o símbolo e o jogo de exercício existe um intermediário, que é o símbolo em atos ou em movimentos sem representação.

A terceira grande categoria é o jogo de regras. Ao invés do símbolo o jogo de regras supõe, necessariamente, relações sociais ou interindividuais e tem início a partir dos sete anos. A regra é imposta pelo grupo, de tal sorte que, sua violação representa uma falta. Os jogos são transmitidos de geração em geração.

Exercício, símbolo e regra, parecem ser as três fases sucessivas que caracteriza as grandes classes de jogos, do ponto de vista de suas estruturas mentais. Essas fases assimilam uma transformação interna na noção de símbolo, no sentido da representação adaptada.

O sistema dos signos permite a formação do pensamento racional, enquanto que o símbolo é um significante “motivador” que testemunha uma semelhança qualquer com o seu significado.

Para Piaget a assimilação incorpora o objeto a esquemas já existentes que lhe dão um significado por isso a representação implica um duplo jogo de assimilações e acomodações atuais e passadas ao qual o equilíbrio entre elas envolve toda a primeira infância.

Com o aumento do equilíbrio consegue alcançar certo grau de permanência, imitação e jogo que se integram às inteligências, alcançando o nível operatório, devido à reversibilidade que caracteriza o equilíbrio (a imitação torna-se refletida e o jogo torna-se construtivo).

Na segunda fase, entre (4-7 anos) de idade ocorrem transformações simultâneas, no jogo, na imitação e a representação das noções.

O pensamento egocêntrico caracteriza-se por suas contrações, ao invés de adaptar-se a realidade, assimila á ação deformando as relações segundo o seu ponto de vista (é o mundo do faz de conta) havendo por isso desequilíbrio entre assimilação e acomodação.

Aos sete, oito, anos o equilíbrio permanece mais estável havendo a reintegração e imitação da inteligência real do jogo e aos onze, doze anos é que as ultimam formas de jogo simbólico é finalizado com o início da inteligência.

Vygotsky em oposição à teoria de Piaget o critica pela falta de estudos sérios quanto à questão de aprendizado e desenvolvimento, e também de clareza teórica das teorias do desenvolvimento aplicadas na educação. Acredita que os processos de desenvolvimento da criança são independentes do aprendizado. Considera o aprendizado um processo externo e independente e que não se envolve ativamente no desenvolvimento da criança.

Ex: dedução, compreensão, abstração, interpretação de causalidade, entre outros, ocorrem por isso mesma sem influência de aprendizado. Para Vygotsky o desenvolvimento do “Ser” foi ocorrendo com a história e a transição cultural da psicologia humana. Procura demonstrar as implicações psicológicas, por ser o homem um ser participante ativo de sua própria existência. Pensa que a criança em cada estágio de seu desenvolvimento adquire os meios para intervir de maneira competente em seu mundo e em si mesma. Para isso sendo importante criar situações estímulos auxiliares ou “artificiais” e que podem ser alteradas pela ação humana. Estímulos artificiais, que podem ser considerados da cultura da criança como a linguagem e também os estímulos produzidos pela própria criança como: o uso do próprio corpo, um sabugo que vira boneco, o carrinho com uma caixa... Tornando o brinquedo em um meio de desenvolvimento cultural.

Piaget e Vygotsky são observadores do comportamento infantil e compartilham a importância do organismo ativo. Vygotsky vai além pela sua visão dialética a qual o ser tem a capacidade de raciocinar usa a lógica, argumenta e discute situações e tem também a capacidade de se adaptar as diversas situações conforme o meio e o contexto cultural e suas transformações. Diz que, os sistemas funcionais do adulto são formados pelas experiências da criança em sua interação social achando essa mais importante que a teoria Piagetiana.

Piaget coloca em destaque os estágios universais e com um suporte biológico enquanto que Vygotsky preocupa-se com as interações sociais em transformação e o biológico do comportamento humano. Diz que: “O meio ambiente não se resume só à situação objetiva a qual o organismo encontra-se. O meio efetivo é produto de uma interação entre características do organismo para experimentar a situação objeto”, não podendo existir um esquema universal de desenvolvimento interno e externo para todas as crianças.

A criança projeta-se nas atividades adultas de sua cultura através do brinquedo e ensaia papeis e valores (pai, mãe, irmãos, professores...), com o brinquedo a criança antecipa o desenvolvimento adquirindo motivação e habilidades necessárias a sua convivência social.

Winnicott também acredita na interação do adulto como exemplo para o bom desenvolvimento da criança inclusive ressaltando a importância da boa mãe (aquela que percebe modificações em seu filho e que lhe serve de exemplo).

Vygotsky acha pobre e incorreto definir o brinquedo como objeto de prazer para a criança. Considera que há jogos que não são prazerosos e inclusive podem causar desprazer. Diz também que o brincar da criança é o brinquedo sem ação, (pura imaginação).

Para Winnicott, os bebes num primeiro momento como é sabido assim que nascem tendem a usar o punho, e os dedos, em estimulação da zona erógena oral, para satisfação dos instintos.

A primeira possessão: a natureza do objeto; a capacidade do bebe de reconhecer o objeto como “não eu”; a localização do objeto fora, dentro, na fronteira; a capacidade de criar, imaginar, inventar, originar, produzir um objeto de um tipo afetuoso de relação de objeto.

Considera o objeto e fenômeno transacional a área intermediária entre a experiência e erotismo oral, entre a atividade criativa primária e a projeção do que já foi introjetado, o desconhecido primário de divida e reconhecimento desta.

O objeto transacional para Winnicott é muito importante para o desenvolvimento saudável da criança e para o equilíbrio do ser. A criança geralmente usa como objeto transacional um paninho, bico, franjas do travesseiro... Segundo as pesquisas do autor se por algum motivo a criança não tiver o objeto transacional à criança mais tarde apresentará algum tipo de distúrbio, desequilíbrio, por ser segundo “ele” o primeiro objeto fora do eu e que contribui como um apoio, um afeto, uma segurança para a criança. Diz também que a maternagem é muito importante na formação saudável do bebe, isto é que a “mãe” precisa ter a sensibilidade de perceber se seu filho está bem.

Vygotsky opõem-se a biogenética da recapitulação não identificando o desenvolvimento histórico da humanidade, com os estágios individuais de desenvolvimento. Acha que as habilidades humanas não estão presentes no recém nascido e que só começam a partir dos três anos de idade. Este é uma ponte de divergência entre Vygotsky e Piaget que acredita nos estágios de desenvolvimento e Winnicott que acredita no objeto transacional como primeiro objeto não “eu”.

Vygotsky acha que quando a criança imita no seu brincar o comportamento dos mais velhos está gerando oportunidade de desenvolvimento intelectual. No começo as brincadeiras são lembranças e reproduções de situações reais, após entra em jogo a dinâmica da imaginação e do reconhecimento de regras implícitas que dirigem as atividades reproduzidas em seu jogo, adquirindo um controle elementar do pensamento abstrato.

Para Winnicott o desenvolvimento intelectual, cognitivo, e social dependem essencialmente da relação da criança com o objeto transacional, que é o ponto culminante do bom desenvolvimento do indivíduo e a partir deste: a brincadeira de imitar a (mãe, irmãos, o pai, professor...), sendo estas também lembranças de como os adultos o tratavam e tratam. O brincar contribui para o crescimento e a saúde, conduzindo aos relacionamentos grupais e pode ser uma forma de comunicação na psicoterapia.

Winnicott estudou com afinco o brincar na infância, e interpretou este ato como uma liquidação de conflitos, e também como forma de comunicação.

O natural é brincar, se a criança não brinca algo de patológico está ocorrendo e precisa investigar.

Vygotsky e Winnicott referem-se a pontos de referência para o desenvolvimento equilibrado do ser humano como: zona proximal e zona transacional que segundo suas pesquisas seriam o que permite o desenvolvimento em equilíbrio. Falam também da imitação e da referência do adulto, para a criança ao brincar, gerando oportunidade de desenvolvimento intelectual ao acessar lembranças, ao usar a imaginação e ao usar regras, o que irá contribuir na instrução escolar.

Considerações Finais

Pode-se dizer que o estudo das três teorias é muito importante para entendermos o brincar e o jogo no desenvolvimento da criança. Cada um dos teóricos apresenta pontos importantes do desenvolvimento da criança e que se unirmos os três saberes teremos uma teoria mais completa sobre o desenvolvimento da criança.

“Koffka, diz que o desenvolvimento baseia-se em dois processos diferentes, as relacionadas, e influentes, maturação que envolve o amadurecimento do sistema nervoso, e aprendizado. Tenta-se assim superar os extremos das outras visões, combinando-as. O novo desta terceira posição é que combina os dois pontos de vista, e isso indica que eles não são opostos nem excludentes”. (Kaffka, citado por Vygotsky na p. 106 do livro: a Formação Social da Mente“).

Referências Bibliográficas

PIAGET, J. (1946). “A Formação da Simbologia na Criança”, Rio de Janeiro: Zahar, 1978.

VYGOTSKY, L. “A Formação Social da Mente”. São Paulo: Martins Fontes, 1984.

WINNICOTT, D. “O Brincar e a Realidade”. Rio de Janeiro: Imago, 1975.

*Acadêmica de Psicopedagogia Clínica e Institucional do Centro Universitário Lasalle de Canoas – UNILASALLE, orientada pela Professora Dra. Cecília Marió Michels na disciplina de Fundamentos Psicopedagógicos do Jogo.





Disponível em http://www.abpp.com.br/artigos/63.htm acessado dia 23/10/2011