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domingo, 23 de outubro de 2011

Contributos do Jogo no Desenvolvimento da Criança

Contributos do Jogo no Desenvolvimento da Criança

Beloni Maria Nardi

novembro/2006

Introdução

O desenvolvimento da criança e a relação com o brincar e o jogo é de fundamental importância para o profissional da psicopedagogia possibilitando a compreensão das relações e entendimento através do jogo e do que a criança quer nos dizer quando brinca, quando joga. Essa atividade pode nos dar respostas quando a criança não consegue expressar-se verbalmente ou por ser muito pequena ou quando por algum motivo ou algo muito marcante negativamente a impede de expressar-se verbalmente e o faz através do jogo. Por esse motivo ressalta-se da importância do estudo de teorias como: Piaget, Vygotsky e Winnicott entre outros. Interessam-nos suas idéias e experiências sobre o assunto o que nos permite ter uma visão mais ampla e clara sobre o tema e que poderá contribuir em nossas atividades.

Desenvolvimento

Tratando-se dos estágios gerais da atividade representativa, para Piaget há três formas de pensamento representativo que são: a imitação, jogo simbólico e a representação cognitiva, solidária entre si e que evoluem em função do equilíbrio progressivo da assimilação e acomodação, (dois pólos da adaptação) e que determina o desenvolvimento sensório-motor.

A formação da linguagem, dos signos é algo social e coletivo. Através da evolução de seu pensamento a criança vai melhorando sua comunicação verbal com isso adapta-se às operações lógicas, porém inadequada à descrição individual de objeto ou a representação espacial infralógico. Não conseguindo ainda descrever detalhadamente experiências pessoais vividas.

Piaget caracteriza os jogos em três grandes tipos de estruturas: jogos de exercício, simbólico e de regras, constituindo os jogos de “construção” a transição entre os três e as condutas adaptadas.

O jogo de exercício que vai entre (0-2 anos), é, portanto o primeiro a aparecer e o que caracteriza o desenvolvimento pré-verbal ao qual tem início o jogo simbólico.

Na criança, a atividade lúdica supera os esquemas reflexos e prolonga quase todas as ações, com isso a noção do jogo de “exercício” pode ser assim pós-exercício marginal, tanto quanto pré-exercício. Nesta fase a criança é egocêntrica sendo que ela brinca sozinha ou com a mãe.

O jogo simbólico tem início entre (2-6 anos), onde o símbolo implica a representação de um objeto ausente, (o jogo de faz de conta) visto ser comparação entre um elemento dado e um elemento imaginado, (representação fictícia), porquanto essa comparação consiste numa assimilação deformante. Ex: a criança que desloca uma caixa imaginando ser um automóvel representa simbolicamente, este ultima pela primeira e satisfaz-se com uma ficção, pois o vínculo entre o significante e o significado permanece subjetivo.

A diferença entre o símbolo e o jogo de exercício existe um intermediário, que é o símbolo em atos ou em movimentos sem representação.

A terceira grande categoria é o jogo de regras. Ao invés do símbolo o jogo de regras supõe, necessariamente, relações sociais ou interindividuais e tem início a partir dos sete anos. A regra é imposta pelo grupo, de tal sorte que, sua violação representa uma falta. Os jogos são transmitidos de geração em geração.

Exercício, símbolo e regra, parecem ser as três fases sucessivas que caracteriza as grandes classes de jogos, do ponto de vista de suas estruturas mentais. Essas fases assimilam uma transformação interna na noção de símbolo, no sentido da representação adaptada.

O sistema dos signos permite a formação do pensamento racional, enquanto que o símbolo é um significante “motivador” que testemunha uma semelhança qualquer com o seu significado.

Para Piaget a assimilação incorpora o objeto a esquemas já existentes que lhe dão um significado por isso a representação implica um duplo jogo de assimilações e acomodações atuais e passadas ao qual o equilíbrio entre elas envolve toda a primeira infância.

Com o aumento do equilíbrio consegue alcançar certo grau de permanência, imitação e jogo que se integram às inteligências, alcançando o nível operatório, devido à reversibilidade que caracteriza o equilíbrio (a imitação torna-se refletida e o jogo torna-se construtivo).

Na segunda fase, entre (4-7 anos) de idade ocorrem transformações simultâneas, no jogo, na imitação e a representação das noções.

O pensamento egocêntrico caracteriza-se por suas contrações, ao invés de adaptar-se a realidade, assimila á ação deformando as relações segundo o seu ponto de vista (é o mundo do faz de conta) havendo por isso desequilíbrio entre assimilação e acomodação.

Aos sete, oito, anos o equilíbrio permanece mais estável havendo a reintegração e imitação da inteligência real do jogo e aos onze, doze anos é que as ultimam formas de jogo simbólico é finalizado com o início da inteligência.

Vygotsky em oposição à teoria de Piaget o critica pela falta de estudos sérios quanto à questão de aprendizado e desenvolvimento, e também de clareza teórica das teorias do desenvolvimento aplicadas na educação. Acredita que os processos de desenvolvimento da criança são independentes do aprendizado. Considera o aprendizado um processo externo e independente e que não se envolve ativamente no desenvolvimento da criança.

Ex: dedução, compreensão, abstração, interpretação de causalidade, entre outros, ocorrem por isso mesma sem influência de aprendizado. Para Vygotsky o desenvolvimento do “Ser” foi ocorrendo com a história e a transição cultural da psicologia humana. Procura demonstrar as implicações psicológicas, por ser o homem um ser participante ativo de sua própria existência. Pensa que a criança em cada estágio de seu desenvolvimento adquire os meios para intervir de maneira competente em seu mundo e em si mesma. Para isso sendo importante criar situações estímulos auxiliares ou “artificiais” e que podem ser alteradas pela ação humana. Estímulos artificiais, que podem ser considerados da cultura da criança como a linguagem e também os estímulos produzidos pela própria criança como: o uso do próprio corpo, um sabugo que vira boneco, o carrinho com uma caixa... Tornando o brinquedo em um meio de desenvolvimento cultural.

Piaget e Vygotsky são observadores do comportamento infantil e compartilham a importância do organismo ativo. Vygotsky vai além pela sua visão dialética a qual o ser tem a capacidade de raciocinar usa a lógica, argumenta e discute situações e tem também a capacidade de se adaptar as diversas situações conforme o meio e o contexto cultural e suas transformações. Diz que, os sistemas funcionais do adulto são formados pelas experiências da criança em sua interação social achando essa mais importante que a teoria Piagetiana.

Piaget coloca em destaque os estágios universais e com um suporte biológico enquanto que Vygotsky preocupa-se com as interações sociais em transformação e o biológico do comportamento humano. Diz que: “O meio ambiente não se resume só à situação objetiva a qual o organismo encontra-se. O meio efetivo é produto de uma interação entre características do organismo para experimentar a situação objeto”, não podendo existir um esquema universal de desenvolvimento interno e externo para todas as crianças.

A criança projeta-se nas atividades adultas de sua cultura através do brinquedo e ensaia papeis e valores (pai, mãe, irmãos, professores...), com o brinquedo a criança antecipa o desenvolvimento adquirindo motivação e habilidades necessárias a sua convivência social.

Winnicott também acredita na interação do adulto como exemplo para o bom desenvolvimento da criança inclusive ressaltando a importância da boa mãe (aquela que percebe modificações em seu filho e que lhe serve de exemplo).

Vygotsky acha pobre e incorreto definir o brinquedo como objeto de prazer para a criança. Considera que há jogos que não são prazerosos e inclusive podem causar desprazer. Diz também que o brincar da criança é o brinquedo sem ação, (pura imaginação).

Para Winnicott, os bebes num primeiro momento como é sabido assim que nascem tendem a usar o punho, e os dedos, em estimulação da zona erógena oral, para satisfação dos instintos.

A primeira possessão: a natureza do objeto; a capacidade do bebe de reconhecer o objeto como “não eu”; a localização do objeto fora, dentro, na fronteira; a capacidade de criar, imaginar, inventar, originar, produzir um objeto de um tipo afetuoso de relação de objeto.

Considera o objeto e fenômeno transacional a área intermediária entre a experiência e erotismo oral, entre a atividade criativa primária e a projeção do que já foi introjetado, o desconhecido primário de divida e reconhecimento desta.

O objeto transacional para Winnicott é muito importante para o desenvolvimento saudável da criança e para o equilíbrio do ser. A criança geralmente usa como objeto transacional um paninho, bico, franjas do travesseiro... Segundo as pesquisas do autor se por algum motivo a criança não tiver o objeto transacional à criança mais tarde apresentará algum tipo de distúrbio, desequilíbrio, por ser segundo “ele” o primeiro objeto fora do eu e que contribui como um apoio, um afeto, uma segurança para a criança. Diz também que a maternagem é muito importante na formação saudável do bebe, isto é que a “mãe” precisa ter a sensibilidade de perceber se seu filho está bem.

Vygotsky opõem-se a biogenética da recapitulação não identificando o desenvolvimento histórico da humanidade, com os estágios individuais de desenvolvimento. Acha que as habilidades humanas não estão presentes no recém nascido e que só começam a partir dos três anos de idade. Este é uma ponte de divergência entre Vygotsky e Piaget que acredita nos estágios de desenvolvimento e Winnicott que acredita no objeto transacional como primeiro objeto não “eu”.

Vygotsky acha que quando a criança imita no seu brincar o comportamento dos mais velhos está gerando oportunidade de desenvolvimento intelectual. No começo as brincadeiras são lembranças e reproduções de situações reais, após entra em jogo a dinâmica da imaginação e do reconhecimento de regras implícitas que dirigem as atividades reproduzidas em seu jogo, adquirindo um controle elementar do pensamento abstrato.

Para Winnicott o desenvolvimento intelectual, cognitivo, e social dependem essencialmente da relação da criança com o objeto transacional, que é o ponto culminante do bom desenvolvimento do indivíduo e a partir deste: a brincadeira de imitar a (mãe, irmãos, o pai, professor...), sendo estas também lembranças de como os adultos o tratavam e tratam. O brincar contribui para o crescimento e a saúde, conduzindo aos relacionamentos grupais e pode ser uma forma de comunicação na psicoterapia.

Winnicott estudou com afinco o brincar na infância, e interpretou este ato como uma liquidação de conflitos, e também como forma de comunicação.

O natural é brincar, se a criança não brinca algo de patológico está ocorrendo e precisa investigar.

Vygotsky e Winnicott referem-se a pontos de referência para o desenvolvimento equilibrado do ser humano como: zona proximal e zona transacional que segundo suas pesquisas seriam o que permite o desenvolvimento em equilíbrio. Falam também da imitação e da referência do adulto, para a criança ao brincar, gerando oportunidade de desenvolvimento intelectual ao acessar lembranças, ao usar a imaginação e ao usar regras, o que irá contribuir na instrução escolar.

Considerações Finais

Pode-se dizer que o estudo das três teorias é muito importante para entendermos o brincar e o jogo no desenvolvimento da criança. Cada um dos teóricos apresenta pontos importantes do desenvolvimento da criança e que se unirmos os três saberes teremos uma teoria mais completa sobre o desenvolvimento da criança.

“Koffka, diz que o desenvolvimento baseia-se em dois processos diferentes, as relacionadas, e influentes, maturação que envolve o amadurecimento do sistema nervoso, e aprendizado. Tenta-se assim superar os extremos das outras visões, combinando-as. O novo desta terceira posição é que combina os dois pontos de vista, e isso indica que eles não são opostos nem excludentes”. (Kaffka, citado por Vygotsky na p. 106 do livro: a Formação Social da Mente“).

Referências Bibliográficas

PIAGET, J. (1946). “A Formação da Simbologia na Criança”, Rio de Janeiro: Zahar, 1978.

VYGOTSKY, L. “A Formação Social da Mente”. São Paulo: Martins Fontes, 1984.

WINNICOTT, D. “O Brincar e a Realidade”. Rio de Janeiro: Imago, 1975.

*Acadêmica de Psicopedagogia Clínica e Institucional do Centro Universitário Lasalle de Canoas – UNILASALLE, orientada pela Professora Dra. Cecília Marió Michels na disciplina de Fundamentos Psicopedagógicos do Jogo.





Disponível em http://www.abpp.com.br/artigos/63.htm acessado dia 23/10/2011

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